quarta-feira, 28 de junho de 2017

Juntos por todos

27-06-2017, 21:30
Pedrógão Grande não esquecerá a solidariedade de um país. Obrigado!
Concerto solidário Juntos por todos no Meo Arena
Estivemos lá.
Ao alto, no lado oposto ao palco, dirigindo-se a todo o pavilhão, as palavras em título. Atrás da plateia, em palco de trabalho, três equipas de televisão dos canais generalistas. José Rodrigues dos Santos, RTP, visto de perfil a uma razoável distância parece magro, pálido, sem a imponência da presença habitual. Entrevista um senhor de cabelo todo branco, de costas voltadas para o palco onde vão estar e actuar os artistas convidados. Era Carlos do Carmo; ele próprio irá pisar o palco. Em outros dois pontos da triangulação televisiva, a TVI e a SIC. Têm sistema de iluminação e de gravação. Admiro este último, dada a atmosfera sonora do recinto. 
Atrás de nós na bancada, umas fiadas acima, figuras conhecidas do público têm lugares reservados que vão preenchendo. Sobe pela coxia Júlio Isidro... As pessoas premeiam-nos com palmas, a uns mais do que a outros. É agora a vez do Malato... depois, o «Gordo», o popular Fernando Mendes junta-se ao grupo. Por vezes, descem e perdemo-los de vista. Fernando Mendes pára ou é parado junto de admiradores, talvez selfie!?, dá três gargalhadas seguidas, muito rápido, como costuma fazer no programa, e vai... 
Os artistas, perguntados por Sílvia Alberto ou Fátima Lopes ou João Manzarra dizem algumas palavras sobre a tragédia do incêndio de Pedrógão. Que se há-de dizer? Palavras de solidariedade, de condolência... Um ou outro pede também «acção»... Prevenção, supervisão, coordenação. Estas três palavras não terão sido usadas, mas foram ditas por outras de igual sentido, muito simplesmente, a acompanhar aos sentimentos expressos de ajuda, união de um povo a socorrer irmãos. Tocaram-me mais estas do que as outras. Ainda mais... É preciso fazer funcionar os meios de prevenção e auxílio, para não termos repetida ano após ano situações como a de que acabamos de sair. São precisos governos competentes que se saibam escrutinados, cada vez mais. O governo que está e o que vai estar, numa continuidade de acção, independentemente da cor.
Fátima Lopes pede um longo aplauso do Meo Arena para os bombeiros. Passa no ecrã o número de telefone para chamada de valor acrescentado. Todo o valor da chamada será para entregar à União das Misericórdias, destinado a ajuda às vítimas do incêndio. Uma apresentadora e um artista lêem o número. Isto repete-se. O quantitativo das ofertas vai subindo, a certa altura sonha-se com o milhão, número que acabará por ser ultrapassado. No final, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Dr. Manuel de Lemos, agradecerá a oferta do cheque de um milhão, cento e cinquenta e três mil euros (1 153 000 €). 
Bem, eu queria agradecer a todos, sei que não há tempo e por isso eu vou exprimir, na palavra, agradecer a uma só pessoa... Nessa só pessoa, agradeço aos artistas, agradeço às pessoas que estão ali na televisão, agradeço a vocês, agradeço a quem esteve no terreno, agradeço aos autarcas, aos bombeiros, às misericórdias... Numa só pessoa, aos membros do governo, ao senhor presidente da República, que aí está, que é o nosso querido presidente da República, que representa a todos, e agradecendo a ele, tenho a certeza que agradeço a todos que nos estão a ouvir. Muito obrigado, senhor presidente da República!
Estiveram presentes, também, dezenas de rádios.
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Para mim, dentre os artistas, o que mais importava era ouvir Salvador Sobral, cuja actuação encerraria o espectáculo. Tal não foi possível, pois para um de nós, «amanhã é dia de trabalho». Ouvi-o hoje pela internet. Fiquei surpreendido por começar a cantar em inglês, A case of you, de Joni Mitchel, depois de no festival da Eurovisão ter cantado na língua que lhe ensinaram no berço. Uma raridade, se não caso único. Cantou até «I met a woman», continuou os acordes ao piano, calmamente, alguns acordes, iniciou, sem pausa, calmamente, Amar a dois.
A assistência pegava nas palavras acabadas de ouvir, completando as frases, Salvador fazia uma espécie de vocalizos, som e gesto de remate cúmplice, continuava… A certa altura, de boca fechada, no espírito da toada da canção, faz um acompanhamento que me soou a clarinete, à boca fechada ou entreaberta. Tudo com visível prazer, intimidade entre ele e o público. Neste estar em família ou num grupo amigo, vem uma saída à Salvador, ingenuidade que tanto lhe apreciamos, a brincar, a ver o que é que vamos dizer… «Vocês acham graça a tudo o que eu faço, batem palmas a tudo e tal…». O resto é sabido… Houve quem não gostasse, leio hoje. E quem, a maioria, gostasse. Adorei.
O cantor Carlos Mendes fez uns versos cheios de graça e chiste que me fizeram lembrar o Manifesto Anti Dantas, de Almada Negreiros. O Dantas, aqui, é O Peido do Sobral. Viva o Peido do Sobral, Pim!
***
 [Da página no facebook de Salvador Sobral]
Mensagem do Salvador Sobral:
"Olá a todos,
Sempre falei duas vezes antes de pensar. Esta minha característica tem a sua parte boa e também a parte má.
Ontem, infelizmente, reconheço que fui bastante inoportuno.
Espero que esta triste intervenção não nos faça esquecer o passo que demos juntos, desde os músicos até vocês que contribuíram para ajudar aqueles que estão em sofrimento neste momento, que são o mais importante no meio de tudo isto.
Peço desculpa se ofendi alguém, sinceramente. Não era a minha intenção, nunca foi.
Obrigado,

Salvador Sobral"

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https://www.youtube.com/watch?v=e5JnWhEqq1s (A Case of you, de Joni Mitchel, cantado por Salvador Sobral, ao vivo | RTP)

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