4 a 6 de Março de 2016
Machico 3
Domingo, 6 de Março
Poeta que nasceu de gente pobre, trabalhadora, considerada. Teve um conflito com o bispo do Funchal, iniciado por fortes críticas que lhe dirigiu. Está associado à maçonaria, esteve preso, no Funchal e em Lisboa; perseguido pela Inquisição, escrevia composições em verso a pedir intercessão em seu auxílio, reclamando a inocência. A prisão em condições muito más estragou-lhe a saúde. Sofria de elefantíase ou lepra. Sentia-se evitado por amigos e pela que amava. Suicidou-se em Lisboa, em casa de um amigo, tomando uma dose de láudano, aos 33 anos. Bom poeta, admirador de Filinto Elísio e Bocage. Conhecedor das letras antigas e curioso das novidades literárias e outras que vinham de França. Admirador de Voltaire. Tem um conjunto de sonetos directamente endereçados a D. João VI, pedindo a libertação.
Com olhos de hoje, parece até conformar-se com a sociedade vigente, com a monarquia e a religião, sem reserva mental. Todavia, a sua consciência não o impedia de ser livre a pensar, a encarar o mundo que o rodeava e lutar pelo seu modo de sentir e ver.
[ A completar]
RIMAS,
de Francisco Álvares de Nóbrega, edição do sobrinho do poeta, 1850. Há edição anterior e outra, de 1950, com grafia actualizada.
Deixo algumas frases, algumas fui comentando ou titulando.
A Madeira, flor do Oceano
Do vasto Oceano flor, gentil Madeira,
[Á Ilha da Madeira]
(Pág. 10)
A morte do autor
«Deixa que a roda o meu Destino prenda;
Em cessando estes males, que padeço,
Talvez então mais altos dons te renda.»
[Á Ilha da Madeira]
(P. 10)
O equivalente ao «Deus lhe pague»
«D'este modo por mim compense Jove
Tua não trivial Beneficencia.»
(P. 31)
As Aves (soneto sem título, como todos)
«Nem o que hão de vestir lhes causa enfado,
Nem, para se manter, vertem suores:
Dá-lhes a terra os fructos seus melhores,
Trazem da propria pluma o corpo ornado.»
(P. 34)
«Detesto a Ingratidão, chóro a Violencia
Amo o Nobre, o Plebeu, o alto, o baixo
No Estado em que os pôz a Providencia.»
(P. 105)
Francisco Álvares de Nóbrega chega a ser excessivo nas
qualificações ao rei:
«Sei que o Rei é porção da Divindade;
Rendo-lhe a adoração, que lhe é devida;
E da Côrte do Mundo a mais polida (1)
Em silencio deplóro inda a maldade.»
(1) França.
(P. 105)
«Não conheço outro Deus de Jove a baixo;
De vós só é que pende eu ser ditoso,
Seja, qual meu delicto, o meu despacho.»
(P. 106)
Dos «ais» da humanidade opressa pela calúnia atrevida, não
vem nenhum bem ao trono:
«Dos tristes ais da oppressa humanidade,
A quem, sem dó, calumnia audaz insulta,
Ao Throno Excelso nenhum bem resulta,
Nenhum bem se origina à Magestade.»
(...)
«Minhas preces ouvi, meu rôgo ardente,
Não permittais que eu outra vez recorra:
Desárma ao compassivo um ai sómente.»
(P. 107)
Compara-se a Filinto Elísio
«E se inda te mereço algum excesso,
Da cadêa do tempo ao prazer dado,
Um só momento rouba, assás o péço,
E faze o teu Filinto afortunado.»
(Final da EPISTOLA
DIRIGIDA
AO
SENHOR ***
ACHANDO-SE NO CAMPO,
E O
AUTHOR
GRAVEMENTE MOLESTO.
(P. 121)
Travessa do Forno
Quem será?
O encontro
Ninguém. Sozinho em casa
Folha, parra, cálice, mão aberta, dádiva
O portão estava fechado ou quase
Convida a entrar
Entrei. Moro aqui
A parte superior sobre a inscrição tem algo de antropomórfico, em que o divino e o humano se juntam.
[1]699
LOUVADO SEIA O SANTISSIMO SACRAM[ENTO]
No fim devia haver uma abreviatura, mas não se consegue ver na foto e falta um pedacinho da pedra
Nas minhas costas..., sobre o corpo humano desnudo, um sinal de veste com que nos cobrimos ou a segunda pele do sofrimento e da doença grave que me corrói a vida.
A visita está a chegar ao fim. As restantes fotografias foram tiradas nesta zona, bem perto do hotel.
No ponto mais alto, o Pico do Facho
280 m de altitude. Apetece subir por ali acima. Há vereda.
280 m de altitude. Apetece subir por ali acima. Há vereda.
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http://www.visitmadeira.pt/pt-pt/explorar/detalhe/miradouro-pico-do-facho-
http://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/1122/1/FAN_Dissert_2008.pdf
http://ruinepomuceno.blogspot.pt/2010/02/francisco-alvares-de-nobrega-camoes.html
http://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/1122/1/FAN_Dissert_2008.pdf
http://ruinepomuceno.blogspot.pt/2010/02/francisco-alvares-de-nobrega-camoes.html
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[Todas as mensagens da visita:
http://aterraeagente.blogspot.com/2016/06/visita-madeira-2.html (Publicada por lapso em Jun e logo revertida para rascunho. Devolvida à blogosfera, em 12-08-2016)
http://aterraeagente.blogspot.com/2016/03/visita-madeira-4-03-2016.html (O regresso a Lisboa; primeira mensagem na ordem de publicação)]
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