sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Visita à Madeira - 9

4 a 6 de Março de 2016
Machico 3
Domingo, 6 de Março

Poeta que nasceu de gente pobre, trabalhadora, considerada. Teve um conflito com o bispo do Funchal, iniciado por fortes críticas que lhe dirigiu. Está associado à maçonaria, esteve preso, no Funchal e em Lisboa; perseguido pela Inquisição, escrevia composições em verso a pedir intercessão em seu auxílio, reclamando a inocência. A prisão em condições muito más estragou-lhe a saúde. Sofria de elefantíase ou lepra. Sentia-se evitado por amigos e pela que amava. Suicidou-se em Lisboa, em casa de um amigo, tomando uma dose de láudano, aos 33 anos. Bom poeta, admirador de Filinto Elísio e Bocage. Conhecedor das letras antigas e curioso das novidades literárias e outras que vinham de França. Admirador de Voltaire. Tem um conjunto de sonetos directamente endereçados a D. João VI, pedindo a libertação. 
Com olhos de hoje, parece até conformar-se com a sociedade vigente, com a monarquia e a religião, sem reserva mental. Todavia, a sua consciência não o impedia de ser livre a pensar, a encarar o mundo que o rodeava e lutar pelo seu modo de sentir e ver. 
[ A completar]

RIMAS,
de Francisco Álvares de Nóbrega, edição do sobrinho do poeta, 1850. Há edição anterior e outra, de 1950, com grafia actualizada.

Deixo algumas frases, algumas fui comentando ou titulando.  

A Madeira, flor do Oceano
Do vasto Oceano flor, gentil Madeira,
[Á Ilha da Madeira]
(Pág. 10)

A morte do autor
«Deixa que a roda o meu Destino prenda;
Em cessando estes males, que padeço,
Talvez então mais altos dons te renda.»
[Á Ilha da Madeira]
(P. 10)

O equivalente ao «Deus lhe pague»
«D'este modo por mim compense Jove
Tua não trivial Beneficencia.»
(P. 31)

As Aves (soneto sem título, como todos)
«Nem o que hão de vestir lhes causa enfado,
Nem, para se manter, vertem suores:
Dá-lhes a terra os fructos seus melhores,
Trazem da propria pluma o corpo ornado.»
(P. 34)

«Detesto a Ingratidão, chóro a Violencia
Amo o Nobre, o Plebeu, o alto, o baixo
No Estado em que os pôz a Providencia.»
(P. 105)

Francisco Álvares de Nóbrega chega a ser excessivo nas qualificações ao rei:
«Sei que o Rei é porção da Divindade;
Rendo-lhe a adoração, que lhe é devida;
E da Côrte do Mundo a mais polida (1)
Em silencio deplóro inda a maldade.» 
(1) França.
(P. 105)

«Não conheço outro Deus de Jove a baixo;
De vós só é que pende eu ser ditoso,
Seja, qual meu delicto, o meu despacho.» 
(P. 106)

Dos «ais» da humanidade opressa pela calúnia atrevida, não vem nenhum bem ao trono:
«Dos tristes ais da oppressa humanidade,
A quem, sem dó, calumnia audaz insulta,
Ao Throno Excelso nenhum bem resulta,
Nenhum bem se origina à Magestade.»
(...)
«Minhas preces ouvi, meu rôgo ardente,
Não permittais que eu outra vez recorra:
Desárma ao compassivo um ai sómente.»
(P. 107)

Compara-se a Filinto Elísio
«E se inda te mereço algum excesso,
Da cadêa do tempo ao prazer dado,
Um só momento rouba, assás o péço,
E faze o teu Filinto afortunado.» 
(Final da EPISTOLA
DIRIGIDA
AO
SENHOR ***
ACHANDO-SE NO CAMPO, 
E O
AUTHOR
GRAVEMENTE MOLESTO.
(P. 121)

Travessa do Forno


Quem será?

O encontro



Ninguém. Sozinho em casa



Folha, parra, cálice, mão aberta, dádiva

O portão estava fechado ou quase
Convida a entrar

Entrei. Moro aqui




A parte superior sobre a inscrição tem algo de antropomórfico, em que o divino e o humano se juntam. 

[1]699
LOUVADO SEIA O SANTISSIMO SACRAM[ENTO]
No fim devia haver uma abreviatura, mas não se consegue ver na foto e falta um pedacinho da pedra





Nas minhas costas..., sobre o corpo humano desnudo, um sinal de veste com que nos cobrimos ou a segunda pele do sofrimento e da doença grave que me corrói a vida.

A visita está a chegar ao fim. As restantes fotografias foram tiradas nesta zona, bem perto do hotel.






No ponto mais alto, o Pico do Facho
280 m de altitude. Apetece subir por ali acima. Há vereda.




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