quinta-feira, 30 de junho de 2016

Reino Unido e União Europeia

«Inglaterra e Mercado Comum» é um pequeno texto de Agostinho da Silva a que chego no acaso de procurar coisas de Agostinho. Em vez de Inglaterra, podia talvez estar Reino Unido ou Ilhas Britânicas, sendo verdade que a Inglaterra é a parte mais vasta e de maior população.
Sigo o autor: a primeira civilização que se manifestou na Inglaterra pertence à chamada cultura megalítica, de origem ibérica. O país fez duas vezes parte da Europa (na ocupação romana e na invasão do príncipe normando, do território hoje francês, Guilherme, o Conquistador).
«A mistura de povos, as condições económicas, a organização social e o aparecimento, sempre misterioso, de homens de génio, fez que a Inglaterra desenvolvesse a partir da Idade Média, vamos pôr no século XV, uma original maneira de ser, em que se daria relevo ao amor da liberdade individual, à atenta observação e utilização da realidade e a uma frescura e originalidade de imaginação que tanto se nota na política, como na poesia, como no trato quotidiano.» (Pág. 227)
É referida a aliança mais antiga da Europa, com Portugal.
A partir do século XVII, a Inglaterra passa da fase poética à do acúmulo económico, ficando ainda «bastante espírito original para que Swift escreva suas sátiras, para que Shelley cante, acima de tudo a liberdade essencial do homem, ou para que, nos nossos dias, A. S. Neill mostre como se deve fazer funcionar uma escola que realmente eduque [...]».
Diz-se a seguir das dificuldades em que se encontra Inglaterra, que chega ao ponto inimaginável numa nação democrática de se votar uma resolução contra a vontade da maioria da população, a de entrada no Mercado Comum. Entre a Commonwealth e uma Europa dominada por Berlim, seria lógico que preferisse a Comunidade. Na Comunidade nada é absolutamente certo (nem na Inglaterra ou no Mercado Comum).
«O que acontece hoje é que, devido à industrialização de grande parte do mundo, a métodos de trabalho que fraquejam perante a concorrência e a sindicatos que estão mais interessados em aumentos de salário do que em soluções políticas globais, se encontra a Inglaterra em grandes dificuldades, sem imaginação para deter os conflitos na Irlanda ou na sua própria Comunidade, para absorver a população de cor que para lá emigra da África, da Ásia ou das Américas, para instaurar no país uma nova ordem económica e social e para rever o seu sistema político, até se dar ao espectáculo, que ninguém imaginaria numa nação democrática, de votar a Câmara uma resolução, a de entrada no Mercado // Comum, contra a qual se manifesta a maioria da população e que é um repúdio de toda a insularidade, de toda a originalidade, de toda a sua antiga afirmação de independência.» (Págs. 227-228)
*
O que se podia prever num sentido ou noutro parece continuar válido hoje. Por mim, faço votos por que o caminho seguido seja bom, dinâmico, o melhor possível para todos, mesmo que o melhor possível saiba sempre a pouco para muitos. Faço votos por que «a revolução inglesa» permita ao mesmo tempo uma «revolução da União Europeia», pois na acomodação das duas o «lucro» é geral. Ouçamos as belas palavras com que termina Agostinho (fala do que sentem os da Comunidade e suas preferências): Na altura de se ter de manifestar uma solidariedade, preferem as classes dirigentes a França ou a Alemanha a qualquer país de amarelos ou pretos; segui-las-á o comum do povo se a economia for próspera e as repudiará se continuar no descalabro; como é esta a perspectiva mais de aceitar, e não parece também que esteja assente em bases seguras a economia do mercado Comum, poderíamos ainda vir a assistir a uma revolução inglesa. Se vier, que possa contribuir para haver em todo o Ocidente a par da segurança a liberdade, a par do pão a poesia e a par do real o sonho. (Pág. 228)
[O texto «Inglaterra e Mercado Comum» vem incluído na secção intitulada O BALDIO DO POVO, do livro Textos Vários. Dispersos, de Agostinho da Silva. A edição é do Círculo de Leitores, Outubro de 2003, com licença editorial por cortesia de Âncora Editores. No início, em 1*, remete-se para a nota
* Lisboa, edição do Autor, s./d. (1970?), in Dispersos, 2.ª ed., Lisboa, ICALP, 1989, fascículos 1 e 2, pp. 523-539.]

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Exposição de Trabalhos da Área das Artes na AUTITV - 2

Esta mensagem é complementar da anterior, com o mesmo título. Da Pintura, dois quadros no espaço de acesso ao salão, já mostrados em vista geral e que nos agradaram particularmente, aparecem agora sozinhos.
Na sala principal, indo no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio (retrógrado), nenhum sector foi ignorado, começando na Oficina do Papel e findando no Patchwork:
Oficina do Papel → Costura → Bordados → Arte em Estanho → Oficina de Fotografia → Artes Decorativas → Olaria → Azulejaria e Cerâmica Decorativa → Gastronomia → Patchwork.
Divertimo-nos desta vez a exibir peças da Arte Decorativa, Olaria, Azulejaria e Cerâmica Decorativa. Da Arte Decorativa nada digo. Fale por si, que fala bem. Na Azulejaria e Cerâmica Decorativa, detenhamo-nos um pouco na parte central, dos artistas/poetas/escritores. Dentro da Olaria, tem uma graça diferente a Arte Xávega, pela sua alacridade, outra forma de dizer alegria, nas cores e na gente que parece estar viva, connosco.
Os professores: Ana Maria Fernandes (Artes Decorativas e Artesanato), António Lourenço Luís (Oficina de Fotografia), Casimiro Lourenço (Arte em Estanho), Deolinda Ferreira (Costura), José Afonso Bastos (Pintura em várias técnicas e materiais), José Neves Andrade (Azulejaria e Cerâmica Decorativa), José Quaresma Ramos (Pintura em Acrílico), Maria Conceição Anes (Oficina do Papel e Pintura em Acrílico), Maria Isilda Marques (Bordados), Maria Leonor Parente (Cerâmica - Atelier Livre, Pintura em Acrílico, Pintura a óleo), Palmira Cipriano Lopes (Gastronomia), Regina Martins Gomes (Patchwork).
Houve actividades práticas, tendo eu acompanhado as dos últimos dias:
dia 20 - Gastronomia;
dia 21 - Fotografia;
dia 22 - Azulejaria e Olaria.
A Gastronomia, tradicionalmente, oferece acepipes e chás preparados pela professora e pelos alunos (maioritariamente alunas, por certo). O espaço reproduz o ambiente familiar de uma casa. Estão expostos cadernos didácticos e cartazes que dão uma ideia do valor formativo da disciplina. Interessou-me especialmente Passeio ao Campo, pela Margem do Rio Sisandro, para Identificação da Flora Local e Seu Aproveitamento Culinário.
Na Fotografia fomos brindados com uma aula-síntese de alguns pontos que o professor nos explicou e revelou ao longo destes anos. Foi também recordação. No final da aula-convívio, como todas, a fotografia de família oferecida amavelmente a todos os presentes, alunos da disciplina e outros colegas que se nos quiseram juntar.
Azulejaria e Olaria — Puxei uma cadeira para ver o trabalho que ia fazendo o aluno de Azulejaria Fernando Lopes. Era uma peça em corda seca. Molhava o pincel na tinta de vidro preta, molhava o pincel «no vidro», como se diz abreviadamente. Tem de se saber aplicar a tinta (uma demão ou duas), para não haver falhas ou esbatimentos em certas zonas. «O Professor Andrade diz que se deve pintar a partir de uma bolha e espalhá-la pela superfície até a cobrir toda», diz uma senhora naquela «mesa-redonda». Fernando Lopes vai pintando e deixa-se interromper sem enfado. As várias superfícies são delimitadas pelos traços da «corda seca», tinta com uma gordura que impede a contaminação/passagem da tinta de cada uma das superfícies para as outras, quando se faz a cozedura. Fernando Lopes tem exposto trabalhos seus para venda nas feiras de artesanato da Consolação e Caldas da Rainha.
[Se houver alguma asneira, em tudo o que disse ou reproduzi de alguém sobre o trabalho em corda seca, é da minha responsabilidade, porque o interesse pela azulejaria e cerâmica é grande, mas não vai acompanhado pelo conhecimento.]
Pintura

Universo


Ceifeiras

Oficina do Papel




Costura



Bordados





Arte em Estanho

Foi difícil fotografar de frente, por causa do efeito de espelho e da contraluz








Oficina de Fotografia
A segunda e a terceira imagens são recorte da primeira. Pretendem mostrar mais de perto alguns trabalhos. Gostei muito da flor de amendoeira, pela sua nitidez e o meu interesse por espécies botânicas e flores. As seis fotografias reproduzidas na terceira imagem foram escolhidas um pouco ao acaso, pela sua centralidade no painel expositivo de conjunto, mas não deve ter sido estranha à escolha a presença do poente com a passagem dos feixes solares.
A última imagem pretende dar ainda maior resolução e destaque para uma (ao menos) peça das em exposição. Calhou ser minha, disponível em arquivo pessoal. Não deixei de o fazer.

Painel das fotografias

Vista do Castelo, Pinceladas do Mestre, 
Flor de Amendoeira e Fim do Dia


Simetrias junto ao Rio Sisandro, Tons de Azul, Entardecer no Baleal, Crepúsculo, Paisagem Ribeirinha e Em Família
[De cima para baixo e da esquerda para a direita]

Na Estrada da Laurissilva


Artes Decorativas











Olaria













Azulejaria e Cerâmica Decorativa










Ver, abaixo, na hiperligação para o sítio do Museu Nacional do Azulejo, a história da origem do trabalho aqui replicado. [Agradeço a informação desta inspiração ao autor, JSP]






Gastronomia








Chá e Plantas de Chá
Chás (encontram-se na 12.ª aula) - Chá de Hortelãs; Chá de salvias; Chá de mistura de ervas
As Plantas dos Nossos «Chás» - Lúcia-lima (aloysia triphylla) [Folhas ao alto]
As Plantas dos Nossos «Chás» - Salva (salvia officinalis)
Rapazinhos (salvia mycrophylla)
As Plantas dos Nossos «Chás» - Erva Cidreira (melissa officinalis)
Hortelã (mentha spicata)
Hortelã-pimenta (mentha piperita) [Folhas em baixo]














Patchwork


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       Veja o painel de Júlio Pomar retratando Fernando Pessoa sentado a ler o jornal. «Réplica de uma secção do revestimento da estação Alto dos Moinhos do Metropolitano de Lisboa     Oferta do Metropolitano de Lisboa»