quarta-feira, 9 de março de 2016

O chamado ACORDO ORTOGRÁFICO despiorizado


No limite, num dia mais ou menos longínquo, em nenhum dos territórios que se desmembraram politicamente de Portugal se falará português. No limite, num dia mais ou menos longínquo, em Portugal não se falará português. De cada uma dessas presumíveis futuras línguas poderá vir dizer algum homem de letras que «com pouca corrupção é a portuguesa», seguindo palavras de Camões, que no concílio dos deuses põe Vénus a defender a gente Lusitana contra Baco,

Por quantas qualidades nela via
Da antiga tão amada sua Romana:
Nos fortes corações, na grande estrela
Que mostraram na terra Tingitana,
E na língua, na qual quando imagina,
Com pouca corrupção crê que é a Latina.
(Os Lusíadas, I, 33.)

Tratar-se a língua como uma mercadoria é um grande equívoco. A ideia de acordo surge ligada à ideia do milhão, dos milhões. A ideia de acordo está errada na raiz. Não é preciso acordo nenhum. Estamos metidos numa grande trapalhada, para não dizer de maneira menos polida, e o senhor presidente da Academia das Ciências vem dar uma boa ajuda para se sair da dificuldade. Fala em despiorizar o acordo e tece considerações, que espero levem pela sua valia — revejo-me nelas — a, entretanto, repor a vigência do acordo de 45, por não estarem preenchidos os trâmites de tratados que ainda não há (ver o que diz Carlos Fernandes, na segunda hiperligação, abaixo), ou simplesmente, porque sim.
Arranje-se maneira de nos livrarmos deste pesadelo e devolver o assunto ao esquecimento.
Tratemo-lo, com elegância e diplomacia, mas como se fosse um rato. Façamos uma despiorização.

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