sexta-feira, 3 de julho de 2015

Largo de S. Pedro

02-07-2015

A estátua aí está. Esteve coberta uns dias e fiquei na expectativa. Será que vai estar à altura de Pedro? O processo construtivo do autor, já conhecido dos torrienses pelo seu grupo escultórico «Eu sei tudo», à vista de quem cruza o espaço multisserviços da Câmara Municipal, deixou-me pensativo, ao vê-lo aplicado a uma obra desta natureza.
João Castro Silva, ao escolher esta maneira de esculpir, fabricar, modelar, já nos dá o seu envolvimento, a maneira de sentir e pensar, escolher. Há, logo à partida, combate e crítica, uma certa tensão de dentro da fragilidade de tudo. Fortaleza no interior da fraqueza.
Deu-nos um Pedro forte e decidido, contra ventos e marés, curvado para melhor sustentar a adversidade. De frente, e isto é mérito do estatuário, esta postura objectiva desaparece como por encanto e surge-nos um varão cheio de verticalidade e inteireza. Lembro o processo da trama nas fotografias reproduzidas nos jornais mais antigos, com a distribuição dos pontinhos (a trama) ou o caso das centenas de linhas verticais no televisor que nos criam a ilusão óptica da continuidade das manchas de cor. Ou, ainda, a sucessão rápida dos fotogramas no cinema. Não os podendo discernir um a um, pois a nossa vista só consegue reagir à velocidade de um décimo de segundo e antes disso já está impressionada com o fotograma seguinte, o que vemos ou julgamos ver é o movimento sem quebra. O mesmo se passa com as tiras ou pequenas réguas aplicadas por João Castro e Silva.
Da estátua de ao pé de S. Pedro, olhando para quem vem entrando na cidade do lado do Choupal e da Rua Miguel Bombarda, como antigamente S. Gonçalo sentado à beira do seu convento falava com quem passava ao fim do dia, depois do trabalho, da estátua e da sua integração no local falou muito bem o seu criador:
“a composição da figura de São Pedro centra-se na ideia de uma estrutura que resiste às forças adversas da natureza, quase que como uma figura de proa de um barco. Inclinada, em atitude de força contra o vento e preparada para afrontar as intempéries.
Com os pés bem assentes na terra, este São Pedro baseia a sua forma na pirâmide, símbolo da síntese, da ideia e da dimensão espiritual. Em que a base é a multiplicidade, a dispersão e o caos, e o topo o mundo dos princípios e da unidade.
Ao nível da integração no espaço de implantação colocou-se a figura em posição frontal à zona de ventos dominantes da praça, contextualizando forma e conceito. Numa relação próxima com a população optámos por não colocar o santo numa base ou pedestal — utilizamos para esse efeito o plano sobrelevado do jardim de oliveiras do lado direito da igreja — é uma visão mais humanística de um santo que é Pedro, uma pessoa que se vê glorificada pelos atos que realiza enquanto homem”.
(Palavras do autor da estátua, transcritas da edição n.º  3104, 3 de Julho de 2015, do Badaladas, incluídas em texto de Ana Alcântara, com a devida vénia)

Sobre «Eu sei tudo», pode ler-se o que escrevi em Junho de 2013, aqui.
Entretanto, voltámos a ter um placa toponímica no Largo de S. Pedro, como toda a gente dizia. É que a Rua 9 de Abril ia, até há dias, sem interrupção, do «Largo da Havaneza» ao entroncamento em que se junta com a Mousinho de Albuquerque, a Cândido dos Reis e a Dias Neiva. Os números de polícia tinham, naturalmente, sequência.
Para saber mais, consultar o jornal Badaladas, na edição referida, onde se informa do preço dos trabalhos de criação do modelo e de fundição e se registam palavras do presidente da câmara de Torres Vedras, Dr. Carlos Miguel, e de Dom Manuel Clemente, cardeal patriarca de Lisboa. A estátua teve a bênção do prelado, que recebeu das mãos do presidente da edilidade uma réplica em tamanho reduzido.
A cerimónia ocorreu em 29 de Junho, dia de S. Pedro.

26-06-2015

02-07-2015

02-07-2015

 02-07-2015

 02-07-2015

 02-07-2015

 02-07-2015

 02-07-2015

02-07-2015

 02-07-2015

 02-07-2015

02-07-2015

02-07-2015

Sem comentários:

Enviar um comentário