quarta-feira, 15 de julho de 2015

Em Dois Portos, n'O Caçador




24 de Junho
Já no final do passeio do dia, aqui parámos para tomar qualquer coisa, que nem merenda chegou a ser, talvez afinal uma sandes e uma mini, o que já é uma festa.


Eu e o N. Sabe bem descansar e conversar sobre o que tínhamos acabado de visitar e... o que calhasse.
Fomos servidos por uma senhora simpática, bem disposta na sua actividade tranquila. Sentado numa cadeira, junto à parede, à esquerda de quem entra, um senhor de 87 anos. Assiste, geralmente naquele sítio, pois a sua condição de saúde já não lhe permite trabalhar. É o Senhor Júlio, como viemos a saber. Falou mais, a Senhora Dália, que nos foi contando como era a vida deles, antes de criarem o estabelecimento, com as dificuldades e a maneira que tiveram para as vencer.
Há quarenta anos, dois médicos disseram ao Senhor Júlio que só tinha quatro meses de vida. 
— Eles já morreram os dois e eu ainda cá ando  — diz-nos. E vai andando.


Sou um grande admirador de azulejos e vejo nestes que aqui deixo a sensibilidade, o íntimo de quem encomendou e de quem criou.
O Caçador é o Sr. Júlio, com a idade que o quadro revela. Foi fácil identificá-lo. Só depois confirmámos. É um retrato perfeito. E quem fez estes azulejos? Isso gostaria de saber, pois é uma obra boa. Fica a assinatura do autor:

ARTE EM AZULEJO     JOSÉ JANEIRO  T.V.

O amor da natureza está muito presente, com o seu quê de mistério e sobrenatural. A pintura da direita traz à memória D. Fuas Roupinho e o milagre da Nazaré, embora pareça diferente. No quadro da esquerda temos uma cena transportada da Idade Média. Estas coisas chegam até hoje. Somos, também, medievais.
O painel O CAÇADOR é algo mais do que uma simples placa identificativa do dono do café e da sua paixão da caça. Mostra um entrelaçar, uns seres continuam-se nos outros, mudando a carne em vegetal e o vegetal em carne. Está também presente a vida social da aldeia, com a casa ou comboio. Ao meio da casa-comboio, um insecto que se continua em planta. Tudo ligado à terra ou assente nela e dela se alimentando. Diz-se que somos feitos de barro e a ele voltamos.
Qual será o significado do vermelho? Será sangue, será fogo?
É hora de sair. Deixamos os anfitriões e a senhora de que não sabemos o nome. Em frente do caçador, na parede da sala do café, lê-se

Júlio e Dália Leitão
Casa fundada em 1969

Na outra sala, o restaurante, com os dois últimos painéis — a cena a que chamei medieval, com o caçador-cavaleiro, ajoelhado como em prece e a do veado perseguido pelos cães.

***
Ainda houve tempo para ir à estação dos comboios, que já tiveram grande movimento de pessoas. À hora a que ali passámos, havia uma certa solidão, dada também pelo conjunto do edifício.







Uma certa solidão...
O comboio ainda não está para chegar.




A estrada de ferro leva-nos a todo o país; a todo o mundo. Continua a ser importante e é amiga da paisagem. Tem futuro.


Parque de merendas também a precisar de ser acarinhado.

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