quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Évora, recentemente - A Fonte Henriquina

24 -12-2014





«Bien merece ser coronada»
Filipe III, 1619

Legenda na peanha octogonal da coroa:
 SEBAS | TIANO | LVSIT | REGI | PIOFE | LICIIN | VICTO | VITA |
Desenvolvo e traduzo:
Sebastiano Lvsit(aniae) regi pio felici invicto vita
 A Sebastião, rei da Lusitânia, pio, feliz, invicto em vida.


A fonte foi construída, reinando D. Sebastião, a instâncias do cardeal-infante  D. Henrique, a quem também se deve a fundação da igreja de S. Antão, com a ajuda do seu irmão, o rei D. João III. Pronta em 1563, um abalo telúrico deitou por terra a abóbada. «O arquitecto das Obras da Comarca, Afonso Álvares, a solicitação do prelado fundador estudou o restauro em 1570, data lamentável para a arqueologia monumental eborense, pois nesta fase das obras D. Henrique ordenou o apeamento do arco triunfal romano da Praça Grande, que lhe ficava sobranceiro, e a subsequente recolha dos seus materiais ao Colégio do Espírito Santo.» (Túlio Espanca, no INVENTÁRIO ARTÍSTICO DE PORTUGAL / CONCELHO DE ÉVORA / I VOLUME, LISBOA, 1966, pág. 208, 1.ª col.)
Aproveitava-se para desafogar a igreja de Santo Antão, à custa do Arco do Triunfo. Dentro do  espaço deste, havia o chafariz dos quatro leões de mármore, de construção recente (1537), que foi desmontado, sendo os materiais aproveitados no edifício da Universidade. 
Conheci a fonte henriquina nos tempos de estudante de Évora, ainda com o gradeamento de ferro introduzido em 1863, por ocasião das obras mandadas fazer pela Câmara «no terreiro, tabuleiro e adro da igreja de S.to Antão»Túlio Espanca refere este facto, no belíssimo estudo, O AQUEDUTO DA ÁGUA DA PRATA (n'A CIDADE DE ÉVORA, 7-8, JUNHO - SETEMBRO -1944, pp. 103-104), de onde retirámos as palavras entre aspas, e quando torna a descrever a FONTE DA PRAÇA DO GERALDO, no I. A. P. (vol. citado, p. 249, 1.ª e 2.ª col.)
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Entretanto, do primeiro destes trabalhos, permitimo-nos dar o seguinte texto, como apoio, e por aqui nos ficamos para não alongar este  apontamento de viagem.
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FONTE DA PRAÇA GRANDE
A actual fonte da Praça do Giraldo, é fábrica da época de D. Sebastião, mas deve-se à magninidade do cardeal D. Henrique. Para a sua construção foi demolido o notável arco triunfal romano, atribuído por Rèsende a Quinto Sertório, e o chafariz dos quatro leões, que lhe ficava sôtoposto. O seu arquitecto foi o mestre de obras régias e do aqueduto Afonso Alvares, aproveitando-se os materiais bons do pórtico para o Colégio do Espírito Santo e Universidade, como se conclue deste documento:

             «Juiz, vereadores e Procurador da cidade de Evora o Cardeal Infante vos enuio muito sandar Afonso Alvares, cavaleiro fidalgo de minha casa, vay a esa cidade de mandado del-Rey meu senhor a dar ordem ao assento da fonte que tem mandado fazer, no lugar da praça onde comnosco e com o provedor do cano praticara, conforme a tenção de sua alteza, também pera mandar desfazer o arco que atravessa a Rua ancha,e o chafariz e pórtico onde corre agoa da prata atee o fundamento pera ficar terreiro diante da porta principal da igreja de sancto Antão, e porque há de mandar leuar pera o Collegio da companhia as columnas grandes e as mães que seruirem do ditto pórtico vos agardecerei parecer-nos bem, por que el-Rei meu Senhor lhe tem dellas feito mercê. De cintra a 21 dagosto Lourenço de Figueiredo a fez âno de 1570.
                                                                                O Cardeal Iff.te» (31)

Em 6 de Novembro de 1571, chegou a Évora o bloco de mármore para a factura da taça, que ficou dum equilíbrio e majestade excepcional, dispendendo com a obra o doador mais de 5.000 cruzados. Rematado por uma bela corôa real de bronze, que mereceria de D. Filipe III de Espanha, em 1619, como exclamação expontânea, sincera e admirativa a lendária frase «Bien merece ser cronada», o chafariz tem na volta da peanha de coroamento esta inscripção.

SEBASTIANO – LVSIT – REGI –
PIO – FELICI – INVICTO – VITA –

Em 1863, quando a Câmara procedeu a importantes obras de urbanização no terreiro, taboleiro e adro da igreja de S.to Antão, pretendeu-se isolar das cavalgaduras a monumental fonte, destruindo-se então as graciosas guardas de mármore, rectangulares, que tanto a // embelezavam, encerrando-se, finalmente, a nobre taça numa grade com pináculos, sem nenhum liâme estético. Numa época de tão grata evocação para o nosso património histórico-artístico, salvo piedosamente pelo Estado, impõe-se a reintegração primeva da magestosa fonte, hoje como ontem, alvo da admiração unânime de nacionais e estranjeiros. [Págs. 103 e 104, de A Cidade de Évora, n.os  7-8, Ano II — Junho-Setembro — 1944] 
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(31) L.º 6.º dos Originais da Câmara,  fl. 258, e António F. Barata, in «Evora Antiga», pag. 14.

NOTA: Respeitada na reprodução o ortografado, incluída a gralha evidente na linha 2, onde se deve ler «magnanimidade», bem como a da última linha do 3.º parágrafo, onde deverá ler-se «coronada».
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(Da internet)
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03-04-2017: reescrito o parágrafo «Conheci a fonte henriquina...».

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