sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Em Córdova e Granada - Córdova, 1.ª de 5

21, 22 e 23 de Novembro de 2014
Em Abril de 2004, estivemos em Córdova. Já não me lembro. Deve ter sido alguns dias, pois tive tempo para conhecer ruas próximas da mesquita, com seus pátios em casas particulares, e percorrer, pelo menos, uma das avenidas principais. Num dos restaurantes em que tomámos a refeição da noite, fomos servidos num pátio, também. Visitei a Faculdade de Filosofía y Letras, em edifício antigo, muito perto da mesquita-catedral (Plaza del Cardenal Salazar, 3) e o Museu Diocesano, junto a um dos ângulos da mesquita. 
Na Torre de la Calahorra, na margem esquerda do Guadalquivir, pude ver, dessa vez, a exposição permanente sobre as três culturas, cristã, judaica e muçulmana, que habitaram lado a lado na cidade. A Fundação Paradigma Córdoba gere desde 2000 este espaço, continuando a Fundação Roger Garaudy, criada pelo filósofo que lhe deu o nome, em 1987.
Uma noite de flamenco, com duas mulheres, graciosas e vestidas de sevilhanas; canto, guitarra, dança e castanholas. Bons momentos das nossas vidas, que gostávamos de repetir; junto à mesquita.
Na primeira viagem, fez-se-me claro o lado público do cristianismo católico, claramente, naturalmente, não escondidamente, no meio da gente e das ruas, praças, pontes e caminhos. A Virgen de los Faroles; O Arcanjo S. Rafael, no largo onde se tocam as ruas Cardenal Torrijos e Corregidor Luis de la Cerda; outro anjo ou arcanjo no tabuleiro da ponte romana. Não se trata de paganismo, embora tenha sentido logo a ligação; o a que chamamos paganismo foi noutro tempo a vivência religiosa de uma época. Os deuses entravam na vida dos homens e das mulheres, quase humanos, demasiado humanos. O divino permeava tudo e Tales pôde dizer, duma maneira mais filosófica, que tudo está cheio de deuses*. Mundo de deuses, anjos, santos, semideuses e heróis. Deus.

          A tarde do primeiro dia vai ser para visitar a mesquita-catedral, onde três califas plantaram colunas, como quem planta um pinhal. Ao último, que levou ainda mais longe o «pinhal do rei», podíamos chamar O LAVRADOR. 
O autocarro leva-nos na manhã seguinte à Medina Al-Azahra, donde se vê na encosta da serra, ali perto, o mosteiro dos Jerónimos, talvez construído com as pedras da Medina, o que parece não estar provado.
Costumo dizer que ando há dez anos para ir a Granada, sendo esta como a viagem da vida a Meca para os muçulmanos. E Granada, uma Jerusalém.
_________________________
* « ... tudo está cheio de deuses»: πάντα πλήρη θεω̃ν ειναι: Aristóteles, referindo Tales, no discurso indirecto, em Da Alma.

*
PARA CÓRDOVA… E GRANADA

            Partida, às 07:00 (e pico, e pico...)
Parámos na área de serviço de Montemor e, em Espanha, nova paragem no restaurante Los Olivos.
Em Montemor, admirámos o artesanato em cortiça, por exemplo, os cintos. Ficou a dúvida, se era uma película exterior de cortiça, se tudo do mesmo material. De qualquer modo, digno de ser apreciado.
A estátua de guerreiro, «Conquistador», rosto inocente e menineiro, dá-nos as boas-vindas. Entre as terras de Santiago (deixámos para trás Palmela, antiga sede da Ordem) e as de Geraldo, o sem Pavor, em Évora, desarma-nos. Traz ao peito e no ventre — parece parte dele — uma caraça folgazã, do queixo aos joelhos, que lhe duplica, contraria, completa a humanidade: sonho, herança de inconsciente colectivo, pulsões, desejos, mitos, religiosidade, libertação… Afinal, apenas uma farda que pode despir.
Talvez o menino guerreiro esteja cindido, como a outra escultura de Pé-Curto, na mesma área de serviço, de que na altura não demos conta. Precisamente, o «Touro Cindido».
           Antiguerreiro, corroído desde o íntimo pela negação.
         Nova paragem em Los Olivos, já em Espanha. A viagem é calma, com os condutores a cumprirem escrupulosamente as regras de segurança. E simpáticos, também. Uma verdadeira guia turística, na pessoa da aluna de mestrado, Dr.ª Ana Almeida, que organizou, fez as diligências preparatórias indispensáveis a que tudo corresse «sobre rodas», distribuiu a toda a gente folha informativa, folhetos, mapas, articulando com motoristas, hotel... Na prática estivemos entregues a uma agência de viagens de primeira, em articulação amiga com a direcção pedagógica da «empresa».

*

Nascer do sol, visto da Ponte 25 de Abril

Conquistador
Área de Serviço de Montemor-o-Novo, 2000




Pode visualizar, abaixo, no 4.º linque catorze esculturas de Jorge Pé-Curto; biografia , exposições individuais e arte pública

Touro Cindido
Área de Serviço de Montemor-o-Novo, 2000
(Da internet)

No espaço de restauração, cafetaria, papelaria, lazer, da área de serviço de Montemor-o-Novo

Los Olivos



Houve um tempo (dura até hoje), em que para mim EL CORDOBÉS era o toureiro, por excelência. Como no passado, Manolete. Como o nosso Manuel dos Santos. É assim, embora pouco ou nada o tenha visto tourear (só na televisão) e não saiba o que é uma chicuelina.

Templo romano. Vem logo à ideia o de Évora.


O Ayuntamiento, paredes meias com o templo romano

Entrada para a Igreja de S. Paulo, fachada barroca na Calle Capitulares
no percurso que leva ao Templo Romano

Igreja de S. Paulo
Neste espaço em que existiu o Circo Romano, depois, substituído por um palácio almóada, construíram os cristãos um convento dominicano. Bem perto, do outro lado da Calle Capitulares, o Ayuntamiento e o Templo Romano.


A Mesquita
      Chama-se-lhe comummente mesquita, embora se trate da Catedral. No lugar do minarete, foi construída uma torre sineira e no coração da mesquita Carlos V mandou erigir uma catedral, aproveitando a configuração dos corredores existentes ou avenidas de colunas. Que adaptações foi necessário fazer, ignoro, mas a catedral lá está, ancha, bem dimensionada. O curioso é que a grandeza da mesquita é tal, que saímos da catedral, rica de arte -- pintura, escultura, arquitectura --, voltamos ao pinhal de colunas, plantado por «reis lavradores», e já na rua, a mesquita impõe-se, a catedral no coração da mesquita empalidece, deixa de se ver. 
      No bilhete de ingresso, o cabido da Santa Igreja Catedral dá-nos as boas vindas (a catedral é, agora, todo o espaço do monumento) e ao alto do bilhete, em título:

LA CATEDRAL DE 
CÓRDOBA
Testigo vivo de nuestra Historia

      Isso ela é, chegando até ao período romano, como documenta uma das fotografias, abaixo.
A tolerância pela salvaguarda deste legado é de agradecer e podemos hoje admirar e possuir um património, que sendo um dia edificado por gente de outras crenças, sempre foi da humanidade. O mesmo se diga da preservação do conjunto monumental da Alambra, em Granada, mas ainda lá não chegámos.



Ruas à volta da mesquita
À volta da mesquita (mesquita-catedral): Lado Norte – Calle Cardenal Herrero (Virgen de los Faroles, Hotel Mariza, Hotel los Patios, entrada para o pátio das laranjas, pela Puerta del Perdón); Lado Poente – Calle Torrijos (Hotel Maimonides, Oficina de Turismo de Córdoba, Palacio de Congresos e Exposiciones, Palacio Episcopal, Museo Diocesano);  Lado Sul – Calle Corregidor Luis de la Cerda; Lado Nascente – Calle Magistral González Francés (Hotel Conquistador, Hotel Mezquita).
Portas
Portas do lado poente: Primeira – Postigo do Leite; segunda – Porta dos Deões; terceira – Porta de Santo Estêvão, ou de S. Sebastião, ou dos vizires; quarta – Porta de S. Miguel, ou dos Bispos; quinta – Porta do Espírito Santo; sexta – Postigo do Palácio, ou Porta de S. Pedro, ou Porta da Pomba; sétima – Porta de S. Ildefonso, ou de Al-Hakam II; oitava porta – Porta do Sabat.
Portas do lado nascente (e fonte e caixa de água): Primeira – Porta de Jerusalém; segunda – Porta do Sacrário; terceira – Porta de S. José; quarta – Porta da Conceição Antiga; quinta – Porta de S. Nicolau; sexta – Porta do Baptistério; sétima – Porta de S. João; oitava – Porta de Santa Catarina; Fonte de Santa Catarina; nona – Puerta de la Grada Redonda.
Portas do lado norte: Virgen de los Faroles; primeira – Porta do Cano Grande (Puerta del Caño Gordo); Fonte do Cano Grande; segunda – Porta de Nossa Senhora del Pilar; terceira – Porta do Perdão; Caixa de Água (Arca del Agua).
Lado sul: Cinco arcadas em cada um dos três pisos; as de baixo não têm portas abertas na parede, nem gradeamento de ferro; Varanda; Altar na parede sul.
*

Lado Norte

Calle Cardenal Herrero



Virgen de los Faroles
Si quieres que tu dolor
 Se convierta en alegria
No pasarás pecador
Sin alabar a Maria

Virgen de los Faroles
Pintura de Julio Romero de Torres. É cópia da original (1928),  que se encontra no Museu de Córdova. Foi realizada pelo filho do autor, o também pintor Rafael Romero de Torres Pellicer. Recorda o Cristo de los Faroles, da Plaza de Capuchinos (1794).


Puerta del Caño Gordo
(Porta do Cano Grande)


MARISA -- Pequeno e agradável hotel, onde ficámos em 2004

Dois momentos do voo de asa delta. Aqui e na imagem seguinte.








Na fita do anjo da direita, lê-se: AVE MARIA GRATIA PLE [NA] DOMINVS TECVM

No chão, antes do degrau,
PUERTA DEL PERDÓN
Ver descrição da porta e seu arco, a parte superior do arco (três arquinhos polilobulados e por sobre eles um alto-relevo do Padre Eterno), em «unaventanadesdemadrid», nos linques do final desta mensagem. Também, aí, porque se diz «Puerta del Perdón».


Pátio das Laranjas

 Pátio das Laranjas

A torre sineira

Entrada da mesquita-catedral
Porta das Palmas

Anunciação
AVE GRATIA PLENA DOMINUS TECUM                  ECCE ANCILLA DOMINI FIAT   
Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.                 Eis a serva do Senhor, faça-se 

Caixa de Água, à direita

Lado Oeste  

Calle Cardenal Torrijos

Fotografia minha de Abril de 2004



Calle Torrijos. Ao fundo, o monumento do Arcanjo S. Rafael

Calle Torrijos
Porta de Santo Estêvão, também chamada de S. Sebastião. Porta dos Vizires



Lado Sul

Do lado da Calle Corregidor Luis de la Cerda

Arcanjo S. Rafael


Lado Leste

Puerta de la Grada Redonda
(Faltam oito portas, de que se pode ver imagens no MATERIAL DE APOIO, abaixo.)

*
O interior






O Professor Jorge Rodrigues explica

Equipados com os habituais aparelhos receptores de som, ... quais pirilampos...


Debaixo deste pavimento, escavações arqueológicas restituíram outro, mais antigo, hispano-visigodo. Ver aquiaqui, e de maneira muito pormenorizada e recuando ao calcolítico, na cidade primitiva que precedeu a romana, aqui. Bastará, por agora, ler as conclusões.

O mesmo

O mesmo, mosaico hispano-visigodo

Capela de N.ª Sr.ª da Conceição,
adossada ao muro ocidental

A capela de N.ª Sr.ª da Conceição, fundada pelo bispo frei Alonso de Medina e Salizanes, foi inaugurada em 1682. O retábulo é de Melchor de Aguirre.






Antiga capela mor, actualmente capela de Villaviciosa
Vista do lado oriental (Capilla Mayor, da Capela de Villaviciosa)


Vista do lado ocidental

Tecto da capela de Villaciciosa

Idem

Idem

Capela de Villaviciosa


Mihrab, em frente

Mihrab, exterior

Mihrab, cúpula



*
A catedral de Carlos V

Altar-Mor

Altar-Mor e tecto acima do altar-mor

Cúpula

Abóbada do coro


Ao meio, o Trono Episcopal do coro

Cruzeiro

Idem


Vitral

*

Assinalados a azul o espaço da mesquita e o do hotel onde pernoitámos
Hotel Macia Alfaros, Calle Alfaros, 18. 

      «Medina» designa propriamente a cidade. Em Coimbra, a almedina é a parte mais antiga.
al-madinâ = a cidade

Facultad de Filosofía y Letras

Torre de la Calahorra
Alberga o museu das três culturas:  judaica, cristã e muçulmana,
representadas por estátuas de Maimónides, Afonso X, o Sábio, e Averróis.
Para se ter uma ideia de como a exposição está organizada, ver, aqui.
Na Torre está sediada a Fundação  Paradigma Córdoba, encarregada da gestão do Museo Vivo de Al-Ándalus. Gere desde 2000 este espaço, continuando a Fundação Roger Garaudy, criada pelo filósofo que lhe deu o nome, em 1987, e procurou a conciliação das três religiões abraâmicas.  

Ponte Romana, Mesquita-Catedral e Porta do Poente
(Da wikipédia)


Concurso de pátios
Maio 2011
(Da wikipédia)

***
MATERIAL DE APOIO
O artigo da wikipédia wikipédia em língua castelhana é muito completo, para dizer o mínimo. Traz imagens lindíssimas e cobre variados aspectos: económicos culturais, sociais, históricos, geográficos... Abrindo a primeira imagem, pode-se ir vendo as seguintes em ecrã inteiro. Quase ficamos com a ideia de que mal tocámos Córdova. Esfregamos os olhos e dizemos: «Bem. Não me enganei. Estive lá.» 

http://da.ambaal.pt/noticias/?id=471  (Diário do Alentejo, sobre Jorge Pé-Curto)
https://www.youtube.com/watch?v=pmQxqIUOBWA (Torre de la Calahorra. Parece não se mostrar nada de uma das três comunidades)
https://www.youtube.com/watch?v=2G0Q51Bcp6c (História da Torre-Fortaleza)
http://cordobapedia.wikanda.es/wiki/Real_Monasterio_de_San_Jer%C3%B3nimo_de_Valpara%C3%ADso
http://museojulioromero.cordoba.es/?id=439 (História e descrição da Virgen de los Faroles). Completar a informação, com o linque «unaventanadesdemadrid», acima.
http://es.wikipedia.org/wiki/Cristo_de_los_Faroles
Flamenco, Manuel de Falla e Joaquín Rodrigo:
https://www.youtube.com/watch?v=VQ3W5Jz00Qg (Flamenco, Manuel de Falla)
https://www.youtube.com/watch?v=_F5AgHSL-vg (Cordoba Guitars – F10 Flamenco)
https://www.youtube.com/watch?v=Nr33M6PBG-M (Flamenco Model Demo, En Los Trigales, by Joaquín Rodrigo)
https://www.youtube.com/watch?v=r2Xdlgii-Rc (Concerto de Aranjuez, BBC Proms 2005)
https://www.youtube.com/watch?v=wcIY6EkbmM4 (Joaquín Rodrigo – Recuerdo de la Alhambra)

Sem comentários:

Enviar um comentário