terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Em Córdova e Granada - A Cartuxa de Granada, 3.ª de 5

                             A sua inspiração alimenta-se especificamente nos Padres do Deserto do Oriente.
                                                                                                                                               (De provocacao33.blogspot.pt)

      A Cartuxa lembra-me logo O Deserto, livro do quase esquecido escritor português, Manuel Ribeiro, importante e lido nos anos vinte (e nos dez, em fase combativa de outro modo, revolucionário, sindicalista, comunista). O Deserto é a Cartuxa de Burgos, para onde foi professar o padre cantor da sé de Lisboa, Anselmo, um dos protagonistas de A Catedral. Em Burgos, será BrunoManuel Ribeiro obteve autorização e esteve uma semana a viver como um dos frades na reclusão do mosteiro, para conhecer na intimidade possível o dia e a noite daquele ambiente espiritual. O «interior» daquela gente, usando uma palavra posta pelo escritor de Planície Heróica, na boca dos camponeses alentejanos.

      De um lado e do outro, vamos vendo serra, no horizonte. Ao lado esquerdo, ainda em construção, o que nós dizemos à francesa TGV (Train de Grande Vitesse) e eles, à espanhola, AVE (Alta Velocidad Española). Uma estrada (de ferro) de AVE.
     Chegámos. O autocarro deixa-nos no Paseo de la Cartuja. À nossa frente, o Mosteiro de Nossa Senhora da Assunção ou, simplesmente, a Cartuxa. 
     A Virgem e o Menino esperam-nos, por cima do pórtico de entrada no recinto do mosteiro. Passada a grande esplanada, subida a escadaria, é a vez de S. Bruno, o fundador da ordem, nos dar as boas vindas.
           Só se podia tirar fotografias no claustro (claustrilho se lhe chama, aqui, pois havia um claustro maior, até 1842), razão por que tive de incluir fotografias da internet, algumas de pouca qualidade. Fui descobrindo melhores, mesmo muito boas, que se pode ver facilmente, através da webgrafia, no final.
      A Cartuxa, fundada em 1515, já não integra edificações, entretanto amputadas, arrasadas, como dizer? Foi-me difícil chegar à palavra certa, que pretendi correcta e indolor. Foram desconstruídas, entre outras dependências: em 1842, o claustro grande e as celas; em 1943, a cela prioral. 

Refeitório
      A parede do fundo (quem entra, à direita) é ocupada em quase toda a largura por um quadro representando A Última Ceia. Por sobre esta pintura, uma grande cruz de madeira de pinho, nova, com a cor clara da tábua acabada de aplainar pelo carpinteiro. Na viga longitudinal, ao alto, as letras INRI (Iesvs Nazarenvs Rex Ivdaeorum, em português, Jesus Nazareno Rei dos Judeus). Pregos grandes nos dois braços da cruz (um, em cada um) e um terceiro, no sítio onde descansavam os pés do Crucificado. Disse «uma grande cruz de madeira de pinho», tão flagrante é o ar de verdadeira,  a ilusão de real a três dimensões (1).
      Na parede do outro extremo da sala, um Cristo na Cruz, tendo ao seu lado duas mulheres, de pé, olhando uma para a outra. A da direita de Cristo, de túnica azul e grande lenço na mão esquerda; a de túnica escarlate tem as mãos postas, em oração. As mulheres devem ser a mãe de Jesus (túnica azul) e Maria Madalena (2). A todo o comprimento dos dois lados do quadrilátero, ostentam-se pinturas de Juan Sánchez Cotán.
      O refeitório era utilizado apenas nos dias festivos.

A igreja
      A riqueza, a exuberância, a apoteose, a arte preenchendo todo o espaço, na pintura, arquitectura, escultura, ornatos variados, estilos. Toda esta quase excessividade, que talvez não o seja se entendida como um cântico ao divino, parece paradoxal. A música não faltava, também, por certo. 
     É uma obra de arte total. Traduzida em música, é do melhor Bach. Aqui, a heresia, é supor que há Bach que não seja do melhor.
        O baldaquino revela, em parte, por trás dele, a grelha encristalada que separa a igreja da capela do Tabernáculo. Do fundo do templo, através do dossel é a Sancta Sanctorum (3), (coisas) Santas dos Santos, isto é, relíquias, por semelhança com o Sanctum Sanctorum, Santo dos Santos, superlativo bíblico que indica o lugar mais sagrado do Templo de Jerusalém; santo dos santos ou santíssimo. 
      Do fundo da igreja, através de uma «janela», sob o escabelo que suporta a Senhora, podemos aperceber-nos da existência do Sacrário. Depois de tanta vastidão recheada de beleza, acresce, ainda, esta maravilha em que se misturam arquitectura, escultura, pintura..., volatilidade, cor, movimento. O escabelo está actualmente escorado por duas tábuas de madeira postas a prumo, que retiram a percepção clara do que está por detrás.

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Arte e artistas
Igreja (meados do século XVI a 1602)
      Pinturas: telas do Baptismo de Cristo e Descanso na fuga para o Egipto; quatro pinturas sobre a Paixão de Cristo, de Sanchez Cotán.
      Óleos, com temas da vida da Virgem e da Adoração dos Reis magos e os pastores, por Pedro Atanásio Bocanegra.
      Baldaquino, no altar-mor, construído por Francisco Hurtado Izquierdo (1710). A escultura, representando N. Sr.ª da Assunção, debaixo do baldaquino, é de José Mora.
      A capela do Sacrário (entre 1709 e 1720).
      Por trás da abside, a capela do Sacrário ou Sancta Sanctorum (decorada pelo arquitecto barrocoFrancisco Hurtado Izquierdo.
      Extraordinária beleza da cúpula hemisférica; os quadros nas paredes e as pinturas a fresco da cúpula (o tema central é a Eucaristia), são de António Palomino.
Sala capitular de padres (entre 1565 e 1567)
      Quadros do pintor barroco Vicente Carducho.
Sala de S. Pedro e S. Paulo ou De Profundis (1600)
      Guarda um retábulo de mármore gris, pintado por Sánchez Cotán, com tal mestria no tratamento da perspectiva, que parece real. O retábulo serve de suporte ao quadro, com os apóstolos S. Pedro e S. Paulo, também pintado por Sánchez Cotán.
Sacristia (entre 1727 e 1764)
      Realizada entre os anos de 1727 e 1764 pelo canteiro Luís de Arevalo e o entalhador Luís Cabello. é uma das edificações mais deslumbrantes do barroco espanhol. Ver, neste texto, que venho a seguir, a continuação da descrição.
Galeria do claustrilho, junto à nave da igreja
      Há quatro capelas, albergando cada uma delas un Ecce Homo, em barro policromado dos irmãos Garcia. Ver mais, aqui.
Refeitório (entre 1531 e 1550)
      Pinturas executadas no século XVII pelo irmão cartuxo Juan Sánchez Cotán. Cenas da vida de S. Bruno e dos inícios da fundação de Chartreuse, dos martírios de cartuxos em Inglaterra, entre outras.
Sala capitular de leigos
      Edificada por Frei António Ledesma (entre 1517 e 1519). Alberga quadros do pintor Vicente Carducho, com temas da vida dos cartuxos.
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      N. B. O esboço de elenco fica muito incompleto. Para o ampliar, consultar a webgrafia.
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      (1) En una de sus paredes pinto Sánchez Cotán una Cruz de admirable relieve, tanto que incluso los pájaros quieren posarse sobre ella [...] Ver, aqui.
      (2) A mãe de Jesus só é mencionada, no relato pelos evangelistas da morte de Jesus, por S. João.
     (3) As palavras da tradução grega da «Bíblia dos 70», (Septuaginta), séc. III a. C., são hagios tôn hagíôn, retomadas, na Epístola aos Hebreus, 13, por S. Paulo. Santo dos Santos. A expressão Sancta Sanctorum tem origem (século XII) na denominação da Igreja de S. Lourenço, em Roma, que é uma capela lateral na parte superior da Sancta Scala do Palácio de Latrão. A grande quantidade e importância das relíquias ali conservadas equiparavam este lugar ao Sanctum Sanctorum do Templo de Jerusalém.
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Pórtico, em estilo plateresco, século XVI



Ao fundo, a fachada principal, de estilo renascença

Pórtico de estilo neoclássico, com duas colunas jónicas
A estátua de S. Bruno é obra de Pedro Hermoso

S. de Bruno
Autor: Pedro Hermoso



A cartuxa, com todas as dependências. Alçado antigo. Comparar o claus


Louvado Seja o Santíssimo Sacramento

O claustrilho é do século XVII, com colunas dóricas
Serve de antecâmara da igreja, a que dá acesso por duas entradas, e dos restantes aposentos sob as suas galerias
O claustro grande foi deitado abaixo, em 1842


Diospireiro


Entrada para o refeitório


Laranjeiras
(Da internet)


Capilla de Legos
Capela de Leigos


(Da internet)

(Da internet)
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(Da internet)

(Da internet)

(Da internet)

(Da internet)

(Da internet)




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Webgrafia

http://www.foroxerbar.com/viewtopic.php?t=7504 (Muito boa compilação de imagens da Cartuxa granadina, com informação sobre o edifício, a arte e os artistas)

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