sábado, 19 de outubro de 2013

CONHECER LISBOA — A BICA


19 de Setembro e 2 de Outubro de 2013

Há uma Lisboa a conhecer: o Miradouro da Graça, a Rua da Bica, o  percurso do eléctrico 28… O que já conhecemos e o que não conhecemos. O que conhecemos, conhecer melhor. No passado dia 19 de Setembro, percorri a Rua da Bica de Duarte Belo, à hora do almoço, e entrei na Casa Liège. Ambiente simples, descontraído; é-se bem servido.

A casa de costura, Atelier D. Bia, o bar Belo Di-nós (Cabo Verde), o Grupo Excursionista VAI TU (Beneficência, Cultura, Recreio), Restaurante Alto Minho, um minimercado e mais…
Interessantes as artérias transversais, terminando em cota mais elevada, de ambos os lados, por exemplo, a Travessa do Cabral, a Travessa do Sequeiro, a da Laranjeira… No último troço, a via leva a designação de Calçada da Bica Pequena e tem uma inclinação bastante acentuada. O percurso, para quem o faça a pé e poupe os 3,60€ do bilhete (ida e volta), por ter uma inclinação média menor, pode parecer menos extenso que o dos outros dois ascensores da capital — da Glória e do Lavra, mas mede 283 metros (inclinação de 11,8%), contra os 265 m. do da Glória (desnível superior a 17%) e os 188m. do do Lavra (inclinação média de 22,9%!).

O Largo de Santo Antoninho é outro elemento que se impõe imediatamente, não pela força, mas pela graça. O Largo é todo o espaço, independentemente do desnível entre a parte de baixo e a de cima e de parte dele ser tecnicamente o arranque da Rua dos Cordoeiros e a Calçada da Bica Pequena o atravessar quase clandestinamente, para seguir pelas escadinhas até à Rua de S Paulo. Não podia faltar um largo à aldeia da Bica e ele aparece no fim da descida, onde começa o pequeno «túnel» que leva à zona de chegada: é o Largo de Santo Antoninho, cujo nome já diz da pacatez, do carácter de ali ser só ali, perto de tudo. Basta descer por duas das suas quatro saídas, uma ou outra, e desaguamos na Rua de S. Paulo. Da importância desta falam as imagens. Se imaginarmos um pouco, do outro lado da rua, olhando de frente para o edifício do ASCENSOR DA BICA, vemos naqueles dizeres um ar de festa e um convite: entrem! É a porta de entrada na aldeia da Bica.

     Depois da segunda visita à Rua da Bica de Duarte Belo, prolongada na Calçada da Bica Pequena, concluo que faz um todo com as travessas que dela saem, a Rua dos Cordoeiros e a Calçada da Bica Grande, constituindo um bairro. Desta Calçada da Bica Grande só trago um breve contacto, quase ao de leve. E, afinal, tão importante é, como se pode ver pelas sugestões de leitura, abaixo indicadas, a que fui conduzido pela necessidade de esclarecer dúvidas e obter informações. Há ali farto alimento, para saciar e deixar admirado qualquer leitor.

     Especificando: «páginas incompletas» é uma delícia; em «ler.letras», um trabalho teórico de fôlego, em que a qualidade da expressão acompanha o saber, Maria da Graça Índias Cordeiro escreve sobre o Bairro da Bica; e de uma maneira alegre e informal em «viverlisboa» diz-nos do seu conhecimento e amizade com gente da festa, do arraial do Beco dos Arciprestes (na Calçada da Bica Grande): «Este ano voltei à Bica como quem volta a casa.»; em «ruasdelisboacomhistria», APS dá farto alimento a quem procurar saber a história da povoação desta zona, desde o século XVI, e dirá, entre muitas outras coisas, a razão de ser das expressões bica grande e bica pequena, citando Norberto de Araújo, que fala do tanque quinhentista ainda existente no «pátio do Broas»; em «sagres.pt», Isabel Solano, num tom alegre e de convivialidade com a gente da festa, como Graça Índias, brinda-nos com vinte e duas mensagens, de 1 a 24 de Junho do corrente ano, num perfeito e completo painel das vivências e ciências das gentes e coisas da Bica de cá e da Bica de lá. 

     Voltaremos.
(Se quiser, clicar nas fotografias, para ver em ecrã inteiro.)


I
Do Largo do Calhariz ao Largo de Santo Antoninho







Restaurante Casa Liège. Estava deliciosa a sopa de agrião.



Janela da papelaria que se vê na foto anterior.

Interessante portal em arco de volta perfeita

Espreitando para dentro do portal da foto anterior.

Restaurante Alto Minho





Em frente, a Travessa do Sequeiro.

Ao fundo, o edifício da Caixa Geral de Depósitos, no Largo do Calhariz. À direita, a Travessa da Laranjeira.



Quem olhar, de relance, vê as senhoras a trabalhar.


Canudos de telha


O bar apropriou parte do nome da rua. É mesmo deles e delas.

A sala desta associação é ampla.



Dos santos populares, Santo António tem o lugar primeiro.


Minimercado


















II
Do Largo de Santo Antoninho à Rua de S. Paulo









Calçada da Bica Pequena.




Travessa da Bica Grande


Calçada da Bica Grande






Rua de S. Paulo

ISCAD -- edifício do Instituto Superior de Ciências da Administração.

O mesmo edifício da foto anterior, visto no sentido de Belém.




Calçada da Bica Pequena




          Referências:
Livro
Maria da Graça Índias Cordeiro, Um lugar na Cidade: quotidiano, memória e representação no Bairro da Bica, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1977, colecção Portugal de Perto.
Internet:


     
III
Na gare do ascensor da Bica





     
          Lê-se com proveito -- http://pt.wikipedia.org/wiki/Elevador_da_Bica

*
IV
Do que mais gostei...

     Do que mais gostei, das páginas consultadas, com a devida vénia ao autor (josé luís), por o copiar aqui para que todos o gozem, as estrofes sobre a Calçada da Bica Pequena (as escadinhas). É um poema de amor. Lindo!!! Clicando em «fotos incompletas», descobrirá  o poema e duas belíssimas fotografias a preto e branco, luz do fim de tarde e luz da noite... É a mesma fotografia, com dois tratamentos de luz diferentes. Mas o blogue é muito rico.




                          calçada da bica pequena


é sempre ao subir lentamente esta calçada da bica pequena
que me ocorre que a cada pedra pisada as paredes se juntam,
um dia destes deixa de haver calçada, apenas dois muros unidos.

e quando ao descer apressado esta calçada da bica pequena
me lembro que não sou quem antevejo no fim dos degraus
desagua em mim, como a dor de um rio na tristeza da foz,
o remorso de não ter evitado pisar as pedras que tanto amo.

é sempre assim, ao passar por mim nesta calçada da bica pequena
nunca me esqueço que sou estas pedras e as paredes que se unem
e também sou quem passa e até um candeeiro quando a noite cai. 





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