quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Évora, 4 - Rua Gabriel Victor do Monte Pereira

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Gabriel Pereira, como homem, como educador, a partir de alguns contos e narrativas (I)
A Rua Gabriel Victor do Monte Pereira (II) 

 I
GABRIEL PEREIRA

Fotografia retirada de Madrugadas, 1888.


Fotografia retirada de Estudos Diversos, 1934, colectânea publicada postumamente.

     Para ajudar a ter uma ideia de quem foi a pessoa Gabriel Pereira, vamos servir-nos do que diz nas Madrugadas, AOS AMIGOS EBORENSES, e dando o resumo, ao acaso, de «O Palácio dos Ratos e a Quinta das Raposas»; do conto «Os Felizes» (novo resumo), saído Em Contos Singelos; de Narrativas para Operários, de que diremos um pouco da primeira, «Em a roda desandando»; do prefácio do livro Estudos Diversos, feito por D. José Pessanha, professor e director da Escola de Belas Artes de Lisboa, debaixo das palavras em título:
Gabriel Pereira 
1847 - 1911
e do posfácio, 
HOMENAGENS,
pelo compilador dedicadíssimo, João Rosa.


1

     Nas madrugadas eborenses, que levava em vigília, lia, tomava apontamentos, escrevia pequenas notas sobre os assuntos predilectos: arte, arqueologia, história. Depois, até clarear o dia, no grande silêncio a que o som do moinho de vento talvez desse ainda mais fundura, deixava-se levar como uma pluma e escrevia as narrativas, as histórias de gente simples, operários, à sua maneira, feliz e sadia, sem a preocupação de subir montanhas ásperas e de duvidoso sentido.
     Antes das madrugadas, a sesta,  exigida pela grande calma, que no Verão ia alastrando mansamente, caindo sobre tudo e todos como um imenso pó morno, morno..., o ritmo cardíaco a diminuir..., o sono...
     Depois do jantar, Gabriel passava pela Bota-Rasa (ainda existe esta sociedade, na Praça do Geraldo, à Rua de Alconchel) a ler «os papéis», ia ao Canudo (?) palestrar um pedaço. Rumava a casa, tomava o chá em família, dava as boas-noites  e recolhia.
     Ia começar mais uma madrugada.
     Hoje, pensa no palácio dos Ratos e na quinta das Raposas e em dois homens diferentes um do outro, na maneira de ser e profissão, mas iguais em vida de trabalho produtivo e no contraste vivo com o mundo do velho fidalgo; um mundo que se sobrevive, parado, se vai consumindo, e outro que se ergue cheio de força e de fé.
     ...    ...    ...

O velho fidalgo residia no seu palácio, a casa mais vasta da pequena vila, ocupando um lado todo do grande terreiro, em frente da igreja matriz.
Aquele triste casarão, pomposo e dormente, afinava com o habitador que raras vezes mostrava nas janelas a comprida barba branca de neve, a aristocrática figura levemente curvada.
Para o vulgar ele era ainda um homem feliz, admirado, muito respeitado […]
Quem sabia destas coisas eram os dois vizinhos do palácio, o ferreiro e o lojista.
O lojista era um sujeito já idoso, muito vivo, grande cavaqueador, contando muitos casos, e fazendo muito bem os seus negócios.
E quando estava de maré contava casos da sua vida; de como fora pobre e entrara no negócio, o seu viver económico, metódico. Contava bem, com alegria; sabia uma infinidade de anedotas, sortidas, próprias para todos os fregueses. As mulheres riam com as histórias e os ditos dele.
Aos domingos dava funções na quinta […]

O outro vizinho era um ferreiro, era o mais rico da terra. Uma casa enorme cheia de ruídos, de clarões frisando no escuro das ferragens, de montões de sucata, de grossos assopros dos foles. O dono do estabelecimento era ferreiro, ferrador, abegão, serralheiro, a tudo se metia, os seus oficiais não paravam; mal rompia a manhãzinha, ainda antes do sino da matriz dar as trindades, já por toda a aldeia e seus arredores, se ouvia o tim-tim vibrante, alegre do ferreiro.
[…]
Este ria pouco, e gostava pouco de histórias; tinha uma vida severa, regulada como um cronómetro. Os seus oficiais já não estranhavam; conversa pouca, mas a paga boa e pontual.
[…]
Recebera dos pais educação sólida para o seu estado, e moral rígida […]

— E então não vieram estes ratões interromper-me no meu problema de xadrez? Vamos ligar as nossas ideias… e eu que já tinha calculado os lances, uma resolução esplêndida… vejamos o rei… a torre… além tenho o bispo… aqui os dois peões…
E muito morosamente, com grande atenção, estudou as posições das peças, parando por muito tempo o indicador sobre elas, considerando todos os casos, todas as consequências possíveis dos movimentos, e nunca mais se lembrou dos ratos do palácio, nem das raposas da quinta.

E olhe… esteve-me mesmo a saltar… a cabeça vazia de ideias clara e sensatas. Olhe, vizinho, sabe o que mais? Aqui temos em ponto pequeno o eu se passa no nosso país em ponto muito maior, muita ignorância, prejuízos e ideias falsas, muitas glórias do passado, muitas peneiras, pouco trabalho, pouco estudo no presente; este gasta a maior parte do tempo a ler as memórias dos capitães-mores, e a discutir posições do bispo, do cavalo, do rei, da torre, e os peões comidos; a sua maior actividade gasta ele em perfeitas ninharias.
[Extractos de «O palácio dos Ratos e a quinta das Raposas», de Madrugadas]

O fidalgo era excelente pessoa, tratava cortêsmente os humildes, tinha sido em seu tempo um galhardo rapaz. Estava pobre. Nada queria vender. Os pais pouca instrução lhe haviam dado, segundo a mentalidade da época. Grandes salões,  pinturas, móveis antigos, alamedas, estátuas cheias de musgo, plantas bravas, tanques cheios de limos. Porque não trata ele das terras? 
O lojista e o ferreiro. O lojista é alegre e tem maneira de satisfazer os clientes, eles e elas, com o alimento de fantasia de que precisam. Tem conversa agradável e histórias que fazem rir.  As mulheres gostam de o ouvir. É exigente com os marçanos, a quem sabe destinar serviço, exigir e incentivar miudamente. Tem governado bem a sua barca. O ferreiro era um operário instruído (comparar com o fidalgo). Obrigava os rapazes da oficina a estudar até aos quinze anos, trabalhando menos duas horas por dia; «artistas sem  saber ler, escrever e contar, era uma vergonha, dizia ele. Herdara alguns pedaços de terra, mas aumentou-as, fez boas propriedades. Enriquece. Confrontava com a quinta do fidalgo, as terras eram bem aproveitadas, com noras, moinho e lagar, tudo feito pelo dono.
O lojista e o ferreiro eram agora credores do fidalgo. O fidalgo dentro de sua casa ou à sombra das alamedas passeia, lê as memórias da família; o fidalgo de nada sabe e tudo confia nos procuradores e rendeiros. O velho carvalho do fidalgo ia-se carcomindo cada vez mais.
Um dia, o lojista apareceu à porta, sem rir, estava zangado. O ferreiro, vinha da quinta, mais sério que de costume. Quase ao mesmo tempo se dirigiram ao palácio. Queriam falar com o fidalgo.
Na livraria, num salão vasto, estava debruçado sobre um tabuleiro de xadrez, a resolver problemas de xadrez. O lojista queixa-se dos ratos do vastíssimo palácio que lhe infestam os armazéns. Oferece «dois gatinhos pardos [...] que devem ser  muito rateiros. O ferreiro vem queixar-se das raposas da quinta, «que têm arranjado abrigo nos grandes penedos da tapada, nos muros velhos, nas casas caídas, nos pombais e coelheiras, há muito abandonados, chios de mato e silvados». coelhos mortos pelos ginetes, um javardo que destruiu o batatal e o milho e «hoje apareceu o galinheiro completamente devastado». O muro derrubado em várias partes e o cano da levada, sem grade. Pede licença para dar uma batida pela quinta...
O fidalgo mostrava bom humor. Promete mandar fazer uma batida a valer «e mostrou no modo que tinha a visita por terminada».
Os dois saíram com cortesias, pisaram-se, confusos...
O fidalgo volta para fora do mundo, mediando nos seus problemas de xadrez, que teve de descurar ao ser interrompido por aqueles ratões. O rei, a torre, o bispo, os peões... Muito morosamente estudou as posições das peças...    .... «e nunca mais se lembrou dos ratos do palácio, nem das raposas da quinta».
Os peões comidos
Os dois vizinhos conversam. Que fariam de um palácio, assim? A lição de moral, no fim, encerra um ideal de conduta pessoal e uma ideia da política, no sentido mais lato da palavra. Os dois estão concordes, sendo a última fala, do ferreiro: o fidalgo, cabeça vazia de ideias claras e sensatas; o palácio e a quinta são a imagem do país: ignorância, preconceitos, ideias falsas, a maior actividade gasta em perfeitas ninharias.

*

ÍNDICE de Madrugadas

A Chica do Vairão   …..................................................Página       9
Um dia no campo   …………………………………      »           25
O palácio dos Ratos e a quinta das Raposas……….       »            45
A ferida   …………………………………………..        »          69
A flor do Paraíso   …………………………………        »          83
O caso do Alferes Apolo……………………….......        »        109
Cuidar e não cuidar   ……………………………....        »        127
O general Serafim recita uma poesia..……………..        »           151
O pardal e o Belo…………………………………...        »       165

*
2

Resumo de «Os Felizes», o primeiro dos Contos Singelos
     
Os Felizes
I — Introdução: considerações sobre a sociedade, que alberga sob a superfície tranquila, agitações e lutas; «no todo a serenidade». As montanhas e as planícies. As serras, as montanhas altivas são pobres, comparadas às várzeas afortunadas. «As aves não cantam nos penhascos selváticos; até a águia, durante as tormentas, passa sobre as rochas, rápida, as asas hirtas, a procurar abrigo nos arvoredos da planície.» Quem é feliz? O grande, o rico, o sábio? Têm vaidades, orgulhos, caprichos, desejos insaciáveis. Elogio de uma vida idílica, de trabalho em estreitos horizontes (não sem coragem e risco, veja-se o caso do José barqueiro, que salvou duas tripulações — russos e suecos — de naufrágio certo).
II — O conto: história singela (é o termo certo, que faz jus ao título que Gabriel Pereira deu ao opúsculo) muito agradável de ler. O Sr. José barqueiro (com o melhor batel, o Feliz viagem) e a filha Emília, que morava junto da oficina de Manuel, carpinteiro, filho de pai carpinteiro, sem alegria e um tanto rabugento desde que lhe morreu a mulher, vão à festa da Senhora da Alegria. O barqueiro:
— Amanhã será dia grande; alugaram-me o batel para a romaria; queres ir, Emília?
III — «Depois da festa, os romeiros debandaram-se pelos arredores da ermida. A ermida da Senhora da Alegria está a meio da encosta duma serra pitoresca […]»
O barqueiro e a filha ficaram em bom lugar e apareceu o Manuel. Foi chamado por Manuel e ficou. Num pequeno período em que ficaram sós, decidiram juntar os seus destinos, selando as palavras que trocaram com um primeiro abraço.
No regresso, conversas dos filarmónicos, já meio «alegres», histórias da vida do mar do Sr. José. O que ele conhecia! Ao fim da viagem de regresso, o pai José percebe e fica comovido. «Tu és bom rapaz, Manuel […] toma conta com teu pai que anda há anos rabugento; e tu, Emília, não te esqueças nunca da tua mãezinha.» Brígida é a mãe de Emília. O pai de Manuel não chega a ter nome.
IV — O temporal, o naufrágio. Em casa de José ouve-se o vendaval e a chuva; reza-se. De repente, um tiro de peça. Depois, outro. Navio em perigo.
José decide ir até ao cais, com os filhos e Manuel. É o único que se oferece com o seu batel a salvar as duas companhas, um brigue sueco e uma barca russiana, homens sujeitos a morte certa. Vai também um outro homem.
Regresso feliz ao cais.
V — Chegam a casa.
Ao outro dia vai ao consulado, mas no caminho troca palavras com o «pai do Manuel» e acaba por lhe dizer que os filhos se vão casar. Procura trazê-lo para  a vida mais alegre. «Você dantes, no seu tempo de casado, não era assim; morreu-lhe a mulher e parece que julga que os mais tiveram culpa…»
No consulado, estavam os cônsules, empregados, alguns comerciantes principais e os náufragos com os novos fatos que lhes tinham dado. Brindes e hurrahs, já com a presença dos «três da companha».
Chegados a casa, manda o Manuel chamar o pai e os dois — José e o pai do Manuel — concordam em que fique justo o casamento…
VI — Preparativos para o casamento, escolha de casa.
Vão em dois batéis verdes novos, dos dois filhos de José. Chegados lá acima, ao terreiro da ermida, vêem um escaler do cônsul russo, trazendo muita gente e muitas senhoras. Eram os cônsules (russo e sueco) e suas famílias. No fim da cerimónia, aproximaram-se todos e felicitam os noivos. Trouxeram prendas. Os dois ranchos reuniram-se nos batéis. As meninas, que não largavam Emília, começam a entoar uma canção.
VII — «Já decorreram dois anos.»
«À noite as duas famílias reúnem-se em casa do marceneiro, junto da chaminé, nas noites agrestes de Inverno, sob as árvores, nas serenas noites de Verão.»  A filha de Emília e Manuel: todos tiram parecenças.
*
Segui as divisões do texto (I a VII).

Em comentário à história, retomando as ideias expostas ao princípio, o autor confia-nos os seus pensamentos de muitas vezes, vendo-os assim satisfeitos em volta do lar ou nas sombras da alameda: «— Quantos grandes e opulentos desejarão a sã felicidade que esta gente goza! Porque são as montanhas mais altas as mais calvas e agrestes?» Etc., etc.
«Aquela gente humilde vive num pequeno horizonte; a ambição não lhes desvaira os pensamentos, a inveja não lhes envenena os corações; e assim como as aldeias alvejam alegres nas veigas verdejantes abrigadas pelas colinas, assim eles vivem na serenidade da família, tranquilos, abrigados dos baldões da vida pelo amor e pelo trabalho.»

3



Em a roda desandando...

Mestre José, serralheiro.
Mestre Francisco, carpinteiro.
Bater para ensinar, levar pancada para aprender.
O compadre André: « os homens em geral são egoistas». (p. 24) E «Se alguem tomba ahi na rua, o primeiro impulso de quasi todos é para a chacota; apenas um ou outro mais fóra do comum corre a levantar o cahido.» (p. 24) E «O que, porém, se vê tambem, ainda que raras vezes, é chegar alguem na occasião propria para consolar e ajudar.» (p. 25)
O ditado predilecto de André: «um por todos, e todos por um».
Agora, um por um, todos os que disseram mal dele, dizem o contrário do que disseram, ponto por ponto.
Voltou tudo ao que era; «o que não voltou foi a generosidade para todos do mestre Antonio e da sua cara metade; o mundo dera-lhes uma lição severa que não perderam». (p. 27 e 28)
O beija-mão aos afilhados
«[...]um beijamão sincéro, jovial e, todavia, com seu tanto de sagrado; o beijo da innocencia boa e fraca na mão rugada pelo trabalho aspero, costumada a fazer o bem sem alardes.» (p. 28)
O sapateiro, para os filhos, concluindo-se o conto:
« Oh! estorninhos d'um santo, diz-lhes elle ás vezes, conservem-se sempre amigos e unidos, e d'aqui a annos, quando eu não estiver já no mundo, lembrem-se do ditado predilecto do padrinho André: "um por todos e todos por um."» (p. 29)

*
Palavra prévia sobre a educação, ideia tão vivida e acarinhada por Gabriel Pereira. Adiante, João Rosa fala deste aspecto, com experiência própria, no nosso autor. Aqui, José e Francisco recordam os seus tempos de infância. José, o carpinteiro, lembra os anos de aprendizagem; de vez em quando, levava um sarrafada, uns sopapos, um ou outro pontapé. 
O narrador/autor:

Felizmente, o supplicio da palmatoria desapareceu, creio que desappareceu de todo […]. (p. 10)

A escola e a officina devem ser casas boas, agradáveis, attrahentes; o professor e o mestre os velhos amigos, os protectores naturaes dos seus discipulos e aprendizes. Ensina-se, aprende-se sem violencias sem supplicios, sem ridiculos; e nada no futuro quebrará as amizades sãs travadas entre espiritos tenros; e nada destruirá as aversões ali semeadas pela offensa, pela brutalidade. (p. 11)

Mestre José convenceu mestre Francisco a seguir-lhe as pisadas. Casaram com a filha do patrão, digamos, por conveniência e sucederam como donos das respectivas oficinas, com oficiais por sua conta e aprendizes. Eram um bocado secos, até, na saudação a quem lhes parecia não estar bem na vida. Aconteceu que mestre António, sapateiro, com a doença a atacar todos em casa e a seguir a ele próprio, ficando meses sem poder trabalhar, deu sinais de passar dificuldades, no desarranjo do pequeno quintal, na necessidade de pedir fiado; teve de vender móveis... O outro sapateiro da aldeia levou-lhe o oficial que o auxiliava.  A começar pelo José e Francisco, que começaram a desfazer e a exortar à desqualificação, toda a gente, em suma, abandonou aquela família, que ficou numa situação desesperada.
Eis que surge, em visita, o compadre André. Com a sua ajuda, vemos tudo voltar ao que era, ficando tudo diferente de antes. Diferente na lição de vida; a «bolsa» da generosidade deixou de se abrir para quem não a merece.
É como uma cena de teatro em que víssemos um cortejo de figurantes passar, com determinado (mau) proceder perante alguém, sair de cena e voltar a entrar, refazendo a situação anterior e mudando o carão sisudo e agreste, para um ar comunicativo, afável e respeitador. Agora, tudo são loas, perfeições, o oficial volta... O que não volta é o olhar despreconcebido da família ferida.
História antiga.
*
ÍNDICE de Narrativas para Operários

Em a roda desandando...     ......................................................     p. 9 a 29
De como o visinho José
OFICIAL DE ALFAIATE
                  MATOU UM PORCO
            E COMPROU MACHINA DE COSTURA...    ..........   p. 33 A 48
O visinho Marcos...    ...............................................................    p. 51 a 60
Historia de um estucador...    ....................................................    p. 63 a 98
Depois de ler um telegramma de guerra...    ...............................  p. 99 a 111


4

Prefácio de D. José Pessanha a Estudos Diversos
     O prefácio é irresumível. Quero dizer que se pode resumir, mas, e ainda pela sua relativa brevidade, é muito melhor lê-lo*. Veja-se, por exemplo, o convívio em Lisboa (1886 ou 1887), do jovem Gabriel Pereira  (e outros jovens) com os três irmãos Bordalo Pinheiro, os mais velhos, em casa de Manuel Maria Bordalo Pinheiro, junto à Praça da Alegria. Os jovens Bordalos e os seus amigos realizaram uma série de conferências, no atelier do artista, cabendo a Gabriel Pereira, «As Antiguidades Pré-históricas». Por razões particulares, vê-se obrigado a abandonar o curso na Escola Naval. Regressa a Setúbal e, depois, a Évora, onde completará a sua formação intelectual. A cidade e a sua Biblioteca Pública, são-lhe um meio natural.
     Em 1886 ou 1887, de novo em Lisboa, na Biblioteca Nacional, onde acabará por ascender a conservador-director.
     Gabriel Pereira, desenhador e homem de fina sensibilidade.
     * Damo-lo, no fim de I, em anexo.
     
5


HOMENAGENS, pelo organizador e anotador, João Rosa
Posfácio a Estudos Diversos*
Salientamos o empenhamento de Gabriel Pereira na educação e na justiça, que nos é comunicado por João Rosa, recordando o papel de Mestre Gabriel, enquanto delegado da Junta Escolar e vereador do pelouro da Instrução. Vale a pena ler o que nos é dito sobre os exames dos meninos que fizeram em Évora o exame da Câmara e a sessão solene, organizada para distribuição de diplomas, de prémios e de medalhas confeccionadas em Paris.
João Rosa refere, ainda, além dos trabalhos de arte, arqueologia e história, o lado de jornalista, as conferências, as cartas particulares e os desenhos.
*No fim de I, em anexo.
*

ANEXO 1
O prefácio de D. José Pessanha a Estudos Diversos






ANEXO 2
O posfácio de João Rosa a Estudos Diversos










II
A RUA GABRIEL VICTOR DO MONTE PEREIRA

     A Rua Gabriel Pereira (Gabriel Victor do Monte Pereira), antiga Rua da Ladeira. Nela está a casa onde nasceu e viveu, assinalada com placa comemorativa. Quanto tempo lá morou? Antes e depois de andar por Setúbal e Lisboa? E quanto tempo, em cada uma das fases? Nada sei. Vamos imaginar.
     Saído da sua casa no n.º 21, terá Gabriel Pereira, encaminhado os seus passos até à Rua de S. Domingos e daí até à Praça Joaquim António de Aguiar. Aí tinha o Teatro Garcia de Resende, com os seus espectáculos, olhando dia e noite para o Jardim das Canas que lhe fica defronte. Outros dias, o caminho para o jardim podia ser calmamente percorrido pelas travessas das Invernas, de Álvaro Pires, do André Cavallo e pela Rua de Santa Marta, conforme calhasse.

     Com a rua que agora leva o seu nome, onde nasceu e brincou desde que se foi conhecendo como gente, foi forjando uma intimidade, a entrar-lhe no sangue, como acontece a cada um de nós, sem pensarmos nisso. Essa intimidade foi-se esclarecendo e ganhando consistência com conhecimentos sempre mais alargados de pessoas da sua vizinhança, pormenores exteriores das construções e também o interior de alguns edifícios de vária qualidade a que teria acesso. Só pode ter sido assim, da parte de quem deixou obra tão vasta, no campo da arqueologia, história, criação literária, descrições de viagens -- é ler Pelos suburbios e visinhanças e Lisboa, de 1910! Ao menos, a parte relativa a Torres Vedras... (Ver a mensagem «Gabriel Pereira em Torres Vedras».)

*

     Estamos na Rua João de Deus e para trás vamos deixar o conjunto escultórico com uma função apenas estética, bebedouro que pretende ser e lugar para as pessoas se sentarem (foto n.º 1).  O restaurante O Garfo fica a «dois» passos, na Rua de S.ta Catarina, n.º 17; a Adega do Alentejano,  na Rua Gabriel Pereira, n.º 21-A, dá-lhe vida e marca também presença no campo da gastronomia.

*

De realçar, na Rua Gabriel Pereira e nas que dela saem*
     À esquerda, a partir da Rua João de Deus (antiga Rua Ancha):
     Rua de Santa Catarina 
     Rua de Soeiro Mendes

     No mesmo sentido, do lado direito:
     Rua de Santa Marta -- Reformatório de Santa Marta. Diz Túlio Espanca, que tudo e extensamente historia e descreve, no Inventário Artístico de Portugal, Concelho de Évora, vol. I: «A fachada principal do edifício deita para a banda do poente, ficando a portaria da Irmandade e a igreja no Largo Joaquim António de aguiar, e o recolhimento na Rua de Santa Marta.»
     Rua 31 de Janeiro (antiga Rua das Adegas) -- N.º 24; casa do tipo século XVII.
     Travessa de Álvaro Pires -- «Casa antiga, de arquitectura popular, foreira da extinta freguesia de S. Tiago (azulejo de domínio na fachada), com alta chaminé de feição tradicional e janela de sacada de estuques novecentistas, de relevo, ornados de florões e aves, na inspiração neoclássica.»
     Travessa do André Cavallo -- N.º 13; pelo menos, em 1966, data de publicação do I. A.: «A proprietária, D. Maria Dias Charrua possui, por compra a umas senhoras de apelido Albertas, recolhidas de casas religiosas da cidade, interessante e dramático retábulo de mármore branco, em alto relevo, de Ecce-Homo.
     Escultura da Escola de Valladolid, do século XVII, mede aprox. 50 x 30 cm.»
     Rua das Invernas
     

     Rua Gabriel Victor do Monte Pereira (antiga Rua da Ladeira)
     A começar da Rua João De Deus (antiga Rua Ancha) -- O prédio da Rua João de Deus, com o n.º 45, tem a fachada principal para a Rua Gabriel Pereira; é «imóvel do tipo seiscentista com janelas de sacada ornamentadas por ferragem de barras redondas e esferas angulares. A proprietária, D. Alzira Caeiro, conserva como património da família, uma bela e grandiosa imagem do Senhor da Agonia, de marfim, trabalho de origem desconhecida, talvez da Europa Oriental, do séc. XVII, que mede de alto 94 cm».
     N.os 19-21 -- «Grupo de construções apalaçadas, com janelas de sacadas granaíticas e grades de ferro forjado de balaústres circulares. Tipo dos começos do século XVIII.» Túlio Espanca, no mesmo vol. do I. A., refere no corpo térreo «abóbadas nervuradas e de aresta, com penetrações, quinhentistas» e no andar nobre uma capelinha, comprimento, 4,50 x largura, 2,30 m. «Rompente dos telhados [...] torrinha [...] e, nas empenas da banda setentrional, duas loggias do tipo ambiente [...]».
N.º 23 — «Casa antiga, modificada, mantendo cunhal datado de 1742. Nela nasceu o escritor eborense Gabriel Pereira. Lápida comemorativa, de mármore branco, na fachada, com a legenda: […].
N.º 34 — «Casa antiga, pitoresca.»
N.º 40 — «Adega primitivamente foreira da confraria de N.ª S.ª das Brotas. Portado de granito com verga emoldurada, simples, sobrepujada por painel de azulejos de esmalte branco e decoração azul: barra do estilo rococó e cena do milagre da padroeira. Inscrição no rodapé: SR.ª DAS BROTAS. Data provável da feitura: 1750.»
* Nesta secção, segui Túlio Espanca, na obra citada, de quem são as palavras transcritas entre aspas.


*

Errata:  neste decalque, onde está Tr. do Cavallo, deve ler-se Tr. Álvaro Pires e vice-versa

Recorte do mapa «Évora Intra-Muros», em Évora - Encontro com a cidade, texto de T. Espanca, ed. CM ÉVORA, 2.ª ED., 1997


Fotografia n.º 1

Fotografia n.º 2

Fotografia n.º 3



Fotografia n.º 4

 
Fotografia n.º 5

Fotografia n.º 6

Fotografia n.º 7


Fotogafia n.º 8

Fotografia n.º 9

Fotografia n.º 10

Fotografia n.º 11

Fotografia n.º 12

Fotografia nº 13

Fotografia n.º 14

Fotografia n.º 15

Fotografia n.º 16 - o mesmo

Fotografia n.º 17

Fotografia n.º 18

Fotografia n.º 19

Fotografia n.º 20

Fotografia n.º 21

Fotografia n.º 22

Fotografia n.º 23

Fotografia n.º 24
A lápide foi descerrada, em 13 de Outubro de 1919.
Fotografia n.º 25

Fotografia n.º 26

Fotografia n.º 27


Fotografia n.º 28
Fotografia n.º 29




                  Fotografia n.º 30                                                                                                                       Fotografia n.º 31

Fotografia n.º 32


Fotografia n.º 33
É a fotografia anterior, recortada e ampliada; vê-se ao fundo a igreja de S. Tiago, as torres da Sé atrás, quase sobrepostas.

Fotografia n.º 34

Fotografia n.º 35

Fotografia n.º 36

Fotografia n.º 37

Fotografia n.º 38


Fotografia n.º 39

 Fotografia n.º 40

Fotografia n.º 41

Fotografia n.º 42
É a foto anterior, recortada e ampliada; no plano superior, por um efeito de perspectiva ou compressão,  a igreja de S. Tiago, as torres da Sé, a Câmara Municipal, o zimbório da Sé, o recorte cimeiro do frontão da igreja do Salvador e a sua torre-mirante aparecem numa mesma linha.

*
     A Bota-Rasa
     Medalha de Mérito Municipal 'Classe Ouro' (2009) -- ver aqui.

Grande silêncio. O zumbido do moinho de vento. Onde seria o moinho?   http://marcoseborenses.no.comunidades.net/index.php?pagina=1718073601

*
Bibliografia
     A Imprensa Nacional/Casa da Moeda ainda tem à venda os Documentos Históricos da Cidade de Évora. Deve ser possível adquirir em alfarrabistas os Estudos Eborenses, em 3 volumes. Quanto ao mais...
     Na internet, veja-se http://www.bdalentejo.net, onde está um imenso manancial, praticamente tudo, de Gabriel Pereira.

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