sábado, 24 de agosto de 2013

OLEIRO ALFACINHA, Caetano Augusto da Conceição


          O depoimento que segue, a partir do segundo parágrafo, apesar de não ser iniciado com aspas, apenas tendo as do fim, é todo de José Sena Conceição. O primeiro parágrafo é certamente do Dr. Marques Crespo.
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Oleiro Alfacinha
José Sena Conceição, ainda oleiro em actividade, conta a vida do seu avô, o «Alfacinha», afamado criador dos tipos de bilhas mais correntes no mercado.
         Caetano Augusto da Conceição — Alfacinha — natural de Lisboa, donde lhe veio o apelido, foi educado na Casa Pia de Évora, onde aprendeu o ofício de marceneiro. Quando completou a idade, saíu deste estabelecimento e ficou a trabalhar em Évora e aí contraiu matrimónio. Nascendo desse matrimónio quatro filhos: Deocleciano, Narciso, Iria e Inês Augusta da Conceição. Mais tarde foi para Reguengos vindo novamente para Estremoz em 1868, e foi morar para a Rua dos Currais para um prédio contíguo ao do oleiro José Perninhas com quem se começou a relacionar e aí começou então a mostrar a sua inclinação para a olaria, e, em colaboração com este, a fazer alguns trabalhos artísticos. Mais tarde resolveu montar uma olaria dado o interesse que esta arte despertou. Foi então montar a referida olaria para a rua do Arco, chamando como operários, Joaquim Firme e outros. Aí então com os seus quatro filhos e estes operários mais se dedicou e aperfeiçoou, e então resolveu concorrer às exposições de Lisboa de 1884 e 1888 alcançando prémios e medalhas eguais aos das outras fábricas do país. Saiu fora do género de louça que fabricavam os oleiros até então, que era a louça vidrada, polida e riscada, e fez trabalhos artísticos como vasos ornamentados, colunas para sala, pratos com frutos pintados a cores naturais, em que o filho mais velho, Caetano Augusto da Conceição, era exímio artista, e uma grande quantidade de louças enfim de ornamento, que ainda hoje há muitas pessoas que possuem algumas dessas peças. Ainda existem muitos moldes ou formas de gesso, porque depois do primeiro modelo feito, tirava-se-lhe a forma para mais fácil reprodução. Fazia-se nessa época e também na casa do meu avô a louça gomada, trabalho muito bonito e que era feito pela filha mais velha. Com a grande propaganda que fez da louça de Estremoz, chegou a fazer grandes exportações não só para o continente, ilhas e para a nossa África, como também para o Brasil, para onde exportava uma grande parte do seu produto. Depois mudou a olaria para a «casa das fardas», e pouco tempo depois, o filho mais velho suicidava-se e ele é acometido de congestão estando a fazer a feira em Évora ocasionando-lhe a morte no dia 29 de Junho de 1902. Ficou depois meu pai, Narciso Augusto da Conceição, na posse da olaria. Começou então de decadência em decadência que ainda hoje se mantém, tendo mesmo tendência a desaparecer de todo estas indústria que tão grande nome deu a Estremoz. A olaria Alfacinha já quási nada fabrica. Caetano Ernesto pode muito bem dizer-se que nada fabrica e Abílio de Abreu também fabrica muito pouco, mesmo este pouco que se está a fabricar não é nada do que se pareça com o que se fez noutro tempo. Isto quanto a feitios e aperfeiçoamentos. Havia então nessa altura em Estremoz muitas olarias que estavam instaladas na Rua do Outeiro e Ruas limítrofes. Refiro alguns nomes dos proprietários de olaria, que são: — António Peixe, José Perninhas, João da Beijinha, José Galgo, José Feiticeiro, António Nina, Luís Franquinho, João Francisco Pieco, José Maria Firme, Serranito, Manuel Baguinho, e António Branquinho, e muitos outros».
(Com a devida vénia, retirado de Estremoz e  o seu termo regional, de Marques Crespo, Estremoz, edição do autor, 1950, páginas 154-155.)

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