sábado, 20 de abril de 2013

     Sintra

     Terra de encanto.
Quem vai de Torres Vedras, pela Coutada, Ericeira, à beira-mar, é a nossa marginal, Sintra afinal aqui tão perto...; ontem fui lá. Pelo caminho, aldeias, nomes que me dizem muito e eu, satisfeitíssimo de o tempo os não ter apagado e nomes de santos e santas. Descubro, em mim, que, por mais não seja, um cristianismo se deixou ficar por inércia e ainda demora. Nossa Senhora do Ó. À esquerda, junto à estrada, que sobe, a igreja. Lá longe, o convento de Mafra na grande massa clara. A sua vista vai-nos acompanhar algum tempo. Ao seu lado ou um pouco para lá dele, uma muito pequena nota dissonante, sem lhe tirar a presença majestosa e espiritual. Um gerador eólico.
     Numa aldeia, com Sintra à vista, páro e pergunto como se vai para lá a umas pessoas sentadas a jogar às cartas e outras a ver. O vidro do lado direito, aberto, pergunto outra vez, desligo o motor do carro. Até que um homem de idade (como eu), «ninguém responde ao homem?», lá pergunto claro e diz-me: -- É sempre em frente. -- Por uns momentos, fui um marciano... Obrigado, senhor; obrigado, amigo. A humanidade ficou redimida.
     O meu objectivo era a Casa do Fauno, a seguir à Quinta da Regaleira. Perto do Turismo, mete-se em frente, passa-se pelo Lawrence's e a uns dois ou três quilómetros, a Quinta da Regaleira. Continua-se na faixa preta de alcatrão, apertado entre grossos muros das quintas, com a patine cinzenta. É a descer e há curvas. Sente-se o verde, o arvoredo, uma espécie de exílio, de paz. A Casa do Fauno. Portão de ferro, gradeado, aberto. Tem de se deixar o carro fora, bem encostado ao muro. Na sala, onde estive algum tempo, música celta ou de influência celta; depois, outra música, mas agradável e repousante.

     Viagens na nossa terra. Há, no entanto, outra pequena nota dissonante. Antes de entrar em Sintra, vê-se o espaçoso Palácio da Justiça ou Campus da Justiça, a exibir-se-nos de maneira desmedida para o restante enquadramento do lugar. Não seria possível tê-lo ocultado parcialmente, com colinas?
*
     Dito isto, encontro-me, à noite, com uma impressão de Sintra, do livro de Vergílio Ferreira, Diário Inédito, que vou lendo, por estes dias. Contrasta com a que acabo de dar. Vamos ver.

Ano de 1948





A Casa do Fauno
     Ver, aqui.

Sem comentários:

Enviar um comentário