domingo, 7 de abril de 2013

Almada Negreiros, os 120 anos do nascimento

Domingo, revista do dia
Do jornal Público, podíamos seleccionar, de entre outros textos muito interessantes, o de Frei Bento Domingos, A ressurreição continua, e, ainda, de Paulo Trigo Pereira, O Titanic, de Vasco Pulido Valente, No escuro. Gostaria de referir, quase clandestinamente, de Miguel Esteves Cardoso, A revista passageira , uma delícia, para quem gosta de livros, revistas, papéis...

Entretanto, às 18h 30 min. começou a comunicação ao país do primeiro-ministro. Já aconteceu. Dias difíceis, os em que estamos. Possamos nós, daqui a uns anos, ver estas coisas como espuma dos dias que ficaram para trás.

O que não fica para trás tão facilmente é a obra dos grandes homens, como Almada Negreiros, de quem agora se comemoram os 120 anos do nascimento.


  Almada Negreiros e Sarah Affonso com os filhos Ana Paula e José Affonso, anos 40


 
 Almada Negreiros ao colo da mãe, Elvira Sobral de Almada Negreiros


 Almada Negreiros e colegas do Colégio de Campolide, no Portinho da Arrábida, 1909 

  
 Almada Negreiros, Lisboa, 1913


Almada Negreiros, 1919



Fotografia inédita de Almada Negreiros, Lisboa, 1921


Retrato de Almada Negreiros dedicado ao pintor Eduardo Viana, 1921




Almada Negreiros, Lisboa, 1921, (Fotografia de Tomás Fernandes)


Sarah Affonso e Almada Negreiros, Lisboa, anos 30 


Almada Negreiros e Sarah Affonso no Chiado, 1934

Almada Negreiros e Sarah Affonso no Hotel Vitória, na Avenida da Liberdade, 1934


Almada Negreiros em finais dos anos 30


  
Sarah Affonso e Almada Negreiros, na Quinta de Bicesse, em finais dos anos 14940 

  
Interior da casa da Quinta de Bicesse 


Atelier da Quinta de Bicesse em finais dos anos 1940



Almada Negreiros no Castelo dos Mouros, Sintra, anos 60


Almada Negreiros a trabalhar na Gare Marítima de Alcântara, Lisboa, 19
 Almada Negreiros a trabalhar no painel «Começar», Fundação Calouste Gulbenkian, 1969

Sarah Affonso com as netas, Catarina e Rita Almada Negreiros
José de Almada Negreiros com a neta Rita, Lisboa, 1969


Em A Invenção do Dia Claro, onde se lê, se vive páginas geniais, lembro as em que Mestre Almada fala da Mãe. A fotografia da mãe com o filho ao colo obriga-me a lembrá-las. «Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça! [...]   [...]
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!»













Esta pequena grande obra é de 1921, Lisboa, OLISIPO, Apartado 145. Há edição fac-similada, da Assírio e Alvim.
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No Público, de hoje:


Há um novo Almada Negreiros para descobrir 120 anos depois


       
Na Quinta de Bicesse encontraram- -se manuscritos, fotografias, cartas e a biblioteca pessoal do artista ainda por estudar. Hoje é anunciada a programação do ano de celebrações do nascimento
Até 2006 houve um Almada Negreiros fechado na pequena casa de madeira que era o atelier da Quinta de Bicesse. Nesse ano, as netas do artista e uma jovem investigadora abriram as portas do espaço. Os manuscritos, fotografias e cartas, entre outros materiais lá encontrados, têm estado desde então a ser trabalhados e serão apresentados ao longo deste ano, durante as celebrações dos 120 anos do nascimento do artista, cuja programação será hoje anunciada (ver caixa).
Com a historiadora de arte Sara Afonso Ferreira, que há dez anos se dedica ao estudo da obra de Almada, Rita e Catarina Almada Negreiros encontraram inéditos como a conferência Os Embaixadores Desconhecidos (1932) ou o folheto satírico K4, O Quadrado Azul (1917), a maquete de um cenário para a peça Los Medios Seres (1929), do dramaturgo espanhol Ramón Gomez de la Serna, originais como o romance Nome de Guerra, cujo manuscrito se julgava perdido desde a primeira edição, em 1938, desenhos publicados na imprensa, rascunhos e uma biblioteca de milhares de livros. "Nenhum de nós estava à espera de encontrar tanta coisa, nem o filho, que me disse ter feito uma selecção daquilo que lhe parecia mais importante para depositar na Biblioteca Nacional", explica Sara Afonso Ferreira.
No meio do pinhal
A Quinta de Bicesse, perto de Cascais, foi mandada construir por Almada Negreiros (1893-1970) e a mulher, Sara Afonso, na década de 1930. Passavam longas temporadas nesta residência, a única que possuíram, já que a de Lisboa, na Rua São Filipe Nery, era arrendada. Durante a II Guerra Mundial, o casal viveu mesmo exclusivamente nesta pequena quinta, com um lagar, uma horta, um pomar e o pinhal em volta do atelier. Após a morte de Sara Afonso, em 1983, o filho do casal, José, levou para lá o recheio da casa da Filipe Nery e do atelier de Lisboa, na Rua Rodrigo da Fonseca.
Sara Afonso Ferreira começou a estudar a obra de Almada 18 anos depois, em 2001, em Bruxelas. Quando veio para Portugal fazer o doutoramento, em 2003, percebeu que a obra de um dos nomes fundamentais do modernismo português "não estava assim tão estudada". Nos museus, considerou as colecções pouco representativas da totalidade da obra plástica do artista, e os catálogos existentes tinham imagens a preto e branco e referências incompletas ou mesmo incorrectas. Face a esse panorama, o estudo a que se propusera, sobre as relações texto-imagem na obra de Almada no quadro do primeiro Modernismo português (1915-1927), pareceu-lhe impossível. "Percebi que tinha de começar pela raiz", conta a investigadora, a quem os herdeiros do artista acabaram por abrir as portas de casa.
A inventariação do espólio na posse da família está a ser feita desde 2011 por um grupo de investigadores do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da Universidade Nova de Lisboa. Os resultados serão apresentados nos dias 13, 14, e 15 de Novembro num colóquio internacional organizado em parceria com o Instituto de História da Arte também da Nova, ao qual Sara Afonso Ferreira está ligada.
Para além da inventariação, o objectivo é promover o cruzamento do espólio da família, do espólio do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian e da Biblioteca Nacional numa plataforma virtual que reunirá todos os documentos que se encontram fisicamente dispersos. "Conseguindo lançar este projecto a partir dos espólios principais pensamos que os coleccionadores e particulares vão sentir vontade de abrir as suas colecções. Muitas vezes trata-se de herdeiros de amigos íntimos do casal, que têm cartas e desenhos", diz Sara Afonso Ferreira.
Fernando Cabral Martins, investigador responsável pelo projecto, e que já estudou a obra de outros modernistas como Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro, diz que o espólio de Almada é particularmente "complexo" e permite uma "descoberta permanente". Especialista em literatura dos séculos XIX, XX e XXI, destaca, para lá dos inéditos, os rascunhos e diferentes versões de um mesmo documento, que permitem perceber o processo de criação. "Os modernistas como Almada não trabalhavam de forma linear, o crescimento da obra não é orgânico. Ali, cada uma das fases tem personalidade própria, existe em si mesma, são múltiplos estados e múltiplas versões da mesma obra. O trabalho que eles faziam é diferente de um trabalho racionalizado e organizado", explica.
Para Cabral Martins, contactar com este espólio permite ter acesso a testemunhos mais directos da vida de Almada, não apenas enquanto artista. "Quem entra em contacto com o espólio sente que há uma comunicação que se estabelece para lá do objecto. O termo técnico é testemunho, que é muito apropriado, porque cada objecto ou manuscrito testemunha algo e é uma coisa viva."
Sara Afonso Ferreira realça também a importância do espólio documental, no qual se incluem objectos comprados em feiras, correspondência, fotografias e recortes de imprensa que levaram a descobertas. No Verão de 2012, por exemplo, encontrou-se um pequeno recorte que fazia referência a nove crónicas que o artista tinha escrito num jornal, das quais os investigadores nunca tinham ouvido falar mas que acabaram por descobrir na Biblioteca Nacional.
Foram ainda encontrados originais de desenhos publicados no semanário humorístico Sempre Fixe, que existiu entre 1926 e 1935. Os originais estavam ainda nos envelopes em que foram devolvidos pela redacção.
Intemporal
O papel das netas do artista tem sido determinante, dizem os investigadores. Rita e Catarina explicam que tiveram de aprender a tratar o avô por "Almada" para criar a distância necessária ao estudo a sua obra. Nas suas palavras, "a grande vantagem deste espólio foi ter sido preservado durante tantos anos": "Se tivesse sido aberto nos anos 1980, as coisas podiam ter ficado dispersas."
A abertura do espólio coincidiu com a passagem do testemunho do arquitecto José Almada Negreiros para as filhas, que, embora não se assumam especialistas na obra de Almada, se dedicam há dez anos a uma causa que consideram ser simultaneamente "um dever e uma obrigação, uma alegria e uma missão".
Não conseguem esconder a admiração que sentem pela obra do avô: "A vibração que sentimos quando lemos ou vemos toda a sua obra para nós é um optimismo, uma vida vibrante, uma inteligência, sentido de humor, é um estímulo enorme. Temos imensa sorte por adorar e gostar imenso da obra do nosso avô e por sermos das primeiras entusiastas. Podia não ser o caso."
Para Rita, arquitecta e parceira de trabalho de Catarina, a obra do avô é intemporal e contínua em diálogo com a sociedade do século XXI. "Toda a vida dele foi virada para a busca do essencial, do arquétipo, do Eu universal, e isso é uma coisa intemporal. A geração do Orfeu é a vanguarda, foram eles que desbravaram o caminho para tudo o que aconteceu até hoje no nosso país. Ir até às origens do que foi essa ruptura é muito enriquecedor. No fundo é o princípio e o agora. Não é o fim, é o agora."

NB -- As fotografias supra são do ESPÓLIO ALMADA NEGREIROS.




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