sábado, 13 de abril de 2013

     Os anos 20 em jornais de Torres Vedras
     O TORREENSE, 1921

     Já há algum tempo -- em 2009 -- li duma ponta à outra um jornal dirigido pelo Dr. Justino Freire Moura Guedes, de que tenciono dar alguma notícia neste blogue. Aí descobri o escritor Manuel Ribeiro -- citado pelo director num dos seus editoriais --, de quem tenho vindo a adquirir a obra quase toda, 
e dois ou três colaboradores de boa qualidade de escrita. Ainda não sei se estes dois jornais, ambos semanários, polemicavam entre si. Guardo notícia de rivalidade de A Nossa Terra com outro jornal torriense, mas não recordo qual. Neste primeiro exemplar (1) de O Torreense, nada se vislumbra e até o aspecto do jornal, a distribuição das peças, o aproveitamento das colunas, pelo menos, um colaborador comum -- Silvestre Botelho de Sequeira -- e a transcrição de artigos de jornais de Lisboa indicam grande similaridade. E mais: o mesmo sentimento de procurar sair de uma situação de entorpecimento cívico e pobreza. A Nossa Terra dá, também, uma extensa descrição, transcrita de jornal da capital, dos acontecimentos ligados à morte de António Granjo, caso exemplar que convém conhecer como em primeira mão, hoje, para memória do que somos, no bem e no mal.

     Hoje, sábado, comecei a ler (1) O TORREENSE, ano de 1921.
     
     O TORREENSE, 2 de Janeiro de 1921
Órgão do Partido Republicano Liberal
publica-se aos domingos em Torres Vedras
     1.ª página:
     1921 - editorial
     AMNISTIA - por Egas Moniz, transcrito de A Lucta
     SECÇÃO LITERÁRIA - Soneto «UMA VEZ», por Virgínia Vitorino´
      Do primeiro verso: «Ama-se uma vez só. [...]»
     O problema financeiro em Portugal - de discurso de Barros Queiroz
*
O TORREENSE, 2 de Janeiro de 1921, N.º 63
        O artigo de fundo, assinado por Talbero (deve ser Alberto, o director, Alberto Vieira da Mota), é de um pessimismo incrível. Muitos sabemos (todos) que é assim, num plano das coisas; noutro, não é, não pode ser. É a vida, mas mesmo a vida não é assim, morte e renovação da vida confundem-se, morte e renascimento. A vida inclui a morte dentro dela. Outra coisa são as configurações que a vida vai tomando. Há é que vivê-la, na configuração em que estamos moldados, sabendo que o percurso (mas ignorando-o ou fazendo por isso) vai acabar um dia. Sabemos ou não sabemos, mas queremos ignorá-lo e ignoramos.
     
     Talbero sabe tudo isto. Ele desabafa, quanto à «apagada e vil tristeza». Na última secção do seu texto, a concluir, transfigura-se de esperança, negando-se:

     «Avé, 1921!  Que não transformes as nossas esperanças em desilusões dolorosas!
     Traz-nos Paz e Felicidade, desanuvia-nos o espírito; afasta para longe as nuvens negras que pressagiam tempestade. Protege-nos, que nós confiadamente exclamamos!
     Salvé 1921!»
*
AMNISTIA, por Egas Moniz
     Defende a amnistia, para os presos monárquicos, os vencidos de 1919. Egas Moniz também pugnou pela libertação dos que estiveram presos no período do dezembrismo, argumenta contra os que se contramanifestaram -- quando da romagem das senhoras portuguesas, junto do Presidente do Ministério, para que os presos pudessem passar o Natal  com as suas famílias -- que também instou pela libertação desses presos políticos com o mesmo calor e entusiasmo com que hoje o faz.
     Defende um plebiscito sobre a amnistia.
     No artigo, são referidos António Granjo e Jacinto Nunes, figuras gradas do Partido Republicano Liberal, que no último congresso exprimiram esta maneira de pensar.

*
     Infelizmente, estavam para acontecer os tristes episódios da noite de 19 para 20 de Outubro deste mesmo ano, em que António Granjo foi assassinado. 
     N'O TORREENSE, n.º 105, de 30 de Outubro de 1921, toda a primeira página é dedicada à morte de António Granjo, e boa parte da segunda. Até ao n.º 113, de 25 de Dezembro, sempre este caso está presente nas colunas do jornal. Número após número, é dado à estampa, em continuação, um trabalho do Diário de Lisboa, «As horas negras da República: "Matem, que matam um bom republicano": As últimas horas da vida de António Granjo».
*
     (1) Vejo, ao chegar a casa, vindo da Biblioteca Municipal, que já havia consultado, também exaustivamente, como no caso de A Nossa Terra, O Torreense, de que conservo muitas notas. Como as coisas se apagam... Os jornais lidos foram os de n.º 63 a 79 (2 de Janeiro a 17 de Abril).
     
     

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