domingo, 17 de março de 2013

O Problema Espinosa

          O Problema Espinosa

Há umas semanas, acabei de ler, indicado por um amigo, O Problema Espinosa. De Espinosa, já tinha lido a Ética e quase todas as Cartas. No livro de Irvin Yalom, a vida e o pensamento de Espinosa são-nos apresentados de maneira clara e confesso que me foi proveitoso. O romance apresenta-nos, alternadamente, capítulos sobre Espinosa e Alfred Rosenberg, anti-semita a cuja evolução assistimos, desde os dezasseis anos até chegar a alto dirigente do Partido Nazi e editor-chefe do seu jornal, o Völkischer Beobachter. Como é possível tal pessoa interessar-se por Espinosa? A ligação é feita através de Goethe, autor admirado por Rosenberg. O Director Epstein obriga-o a apresentar um trabalho, «tem de ler os capítulos números catorze e dezasseis da autobiografia de Goethe, e tem de transcrever cada frase que ele escreveu acerca de Benedito Espinosa». No capítulo trinta assistimos a uma sessão de terapia com o amigo de infância, Friedrich Pfister, em que se volta a Goethe e a Espinosa. Rosenberg sentia-se atormentado por Hitler. Friedrich: «Tenho a certeza que ele teria dito que você está sujeito a paixões que são provocadas por ideias inadequadas, em vez de o serem pelas ideias que fluem de uma verdadeira procura para tentar entender a natureza da realidade.» […] «Alfred, o senhor está a retirar conclusões muito rapidamente. […]»
«— O senhor está sempre a defender os judeus.
—Ele não é um representante dos judeus. Ele abraça a razão pura. Os judeus expulsaram-no.»
O problema Espinosa chega ao fim. A sessão é interrompida por Rudolf Hess. Vão os dois até à sala onde Hitler se encontra à espera. Rosenberg é como reabsorvido por Hitler, que lhe concede o Prémio Nacional Alemão. Diz-se recuperado. O amigo de infância deixa de existir.
«Alfred caminhou num passo apressado até ao seu quarto e começou rapidamente a fazer as malas. Alguns minutos mais tarde, Friedrich bateu à porta do quarto.
— Vai-se embora, Alfred?
— Sim, vou-me embora.
— O que aconteceu?
— O que aconteceu é que eu já não preciso dos seus serviços, Herr Oberleutnant Pfister. Regresse imediatamente às suas funções, em Berlim.»

Chega a parecer tratar-se de dois romances justapostos. Prefiro o romance-espinosa. Podia ler-se, independentemente do outro.

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